sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Pista de dança.

Depois de sair da casa, entrei no carro e senti o banco fofo. O cheiro de carro novo invadiu minhas narinas e, logo depois de vê-la entrar, senti o cheiro do seu perfume. Só não senti mais depois de algum tempo porque abri a janela e, bom, eu estava no banco de trás. Mas se eu me impulsionasse um pouco mais a frente, poderia sentir o cheiro do seu cabelo.
Ela grudou as mãos na direção e pisou fundo, quando todos já estavam dentro. Eu sempre gostei de adrenalina em carros, motos, velocidade, essas coisas. Mas ela detonava, que era coisa de louco!
Tinha mais ou menos umas doze pessoas dentro do Fiesta branco. Não sei como ela consegue correr daquele jeito com tanta gente dentro do carro. Ela só parou quando uma menina loirinha, pequena e sorridente que estava esmagada ao meu lado falou:
- Mais devagar, Susi.
- Desculpa, galera, é que me empolgo.
A sonoridade da sua voz entrou em meus ouvidos, quebrando aquele silêncio oprimido.
Penso eu que a maioria das pessoas que estavam ali comigo, com a exceção de alguns, estavam todos tensos e nervosos. Afinal, para onde estávamos indo? Para uma festa ou algo assim? Eu, ao menos, não consigo não ficar tensa sem saber pra onde estou indo. Não é a toa que quase nunca ando sem rumo, acho isso estranho e acabo me perdendo, sempre que tento.
Susi foi aumentando a velocidade gradativamente, dobrou em várias esquinas, atravessou ruas e passou por vários carros quase voando. Senti que ia voar, que íamos sair do chão e passar por cima da multidão cinzenta da cidade.
Particularmente, acho a cidade um pouco esquisita e densa, diferente do lugar aonde eu moro, que é no campo. Cidade grande me mete medo e, em alguns lugares, dá pra cortar o ar com uma faca de tão denso. Muitas e muitas vezes, quando minha mãe deixava a fazenda e me chamava para vir a cidade, eu negava, justamente por não gostar do clima daqui. Mas, nessa noite, fazia tempo que eu não via luzes ligadas até mais de meia-noite, resolvi sair. Só não sabia pra onde. Nem eu nem quase ninguém. Só a Susi.


Ela dobrou na última esquina, uma escura e cheia de fios torados, jogados no chão. Fiquei imaginando que vândalos andavam por ali, pois tinha muita placa quebrada, out-dors pixados e muito papel e sujeira no chão. Parou e estacionou o carro quase no fim da rua. Fez uma baliza para poder colocar tudo no lugar. Era costume seu ter tudo no lugar. Mas só eu sabia disso.

Ao descer do carro, percebi que tinha uma coisa diferente nela: ela estava de cabelos soltos, e os havia lavado, por isso estava tão cacheado e brilhoso, mesmo a noite. A luz da lua refletia em seus cachos morenos, sua pela cor de chocolate também reluzia, juntamente com seus olhos castanhos-esverdeados. Não sei por quanto tempo fiquei hipnotizada por aquela beleza de 1,70. Meio que acordei e entrei na casa aonde estava havendo a festa. Em menos de dois minutos já tinha um drink em minha mão e já estava dançando na pista. Posta a sua frente, seu corpo balançava e encantava a todos com seu gingado. Não sei porquê, não sei como, mas de repente estávamos só eu e ela na pista de dança.