segunda-feira, 31 de março de 2008

A face do pecado

Ele abriu a porta do quarto devagar, delicado. Estava nervoso. O clima do quarto era quente e expelia uma singularidade; diferente dos outros quartos do bordel. Fora a cama, que era igual às outras, - do tipo dossel, vermelha - tudo era muito diferente, parecia ter sido estilizado pela própria que residia no local. Vários pôsteres de artistas de Rock famosos e antigos, alguns como David Bowie e The Clash estavam e maior estampa, quase tomando toda uma das paredes do quarto.

Ela estava deitada. Usava um corcelet vermelho com uma saia plissada preta e uma meia de renda que ia até as coxas, combinando.

Ele caminhou nervoso, até a proximidade da cama. O cheiro do ambiente era de sexo e algum perfume barato. Sentou-se na beira da cama. Não conseguiu encará-la.
Ficou olhando para o chão, para os seus sapatos, para o pé da mesa-de-cabeceira, para todos os lugares, exceto para ela. Nem entendeu o porquê estava ali.

Ela se aproximou dele, pondo as mãos sobre seus ombros. Estava tenso. Beijou o pescoço dele e, pelas costas, começou a despi-lo. Tirou o nó da gravata e desabotoou o paletó.

- Como vai querer o serviço, bebê?

Ele estava muito mais tenso do que imaginava. Nunca tinha ficado assim antes. Mas, qual antes? Não havia antes. A primeira vez era a que mais marcava, esse era seu lema - ou não? Ele não falou nada. Apenas deixou-a tirar seu paletó e ir passando a língua pelo seu rosto.

Ele foi tentando relaxar um pouco. Achou difícil. A umidade da língua dela ia molhando cada poro de seu corpo. Ela descia por seu pescoço tão vagaroso quanto prazerosamente. Sua língua ia atrás de sua mão, que rompia as fechaduras para seu corpo. Estava despido; da vergonha e de seus trajes.

Ela empurrou-o ferozmente de encontro a cama. Costas despidas. Sentiu as molas velhas rangerem com seu peso. Viu que ainda vestia calças. E o cinto. Um peso suave sobre seu abdômen o acordou do transe. A língua agora era uma mistura de aspereza e umidade. Parecia uma lâmina queimando sua carne; sensação de luxúria. Ela chegou a sua cintura.

A delicadeza qual começara fora embora em uma rapidez fugaz. Agora agarrara sua cintura com força e arrancava seu cinto do corpo, fazendo-o gemer de dor. Aquilo não lhe parecia nada confortável. Abaixou-lhe as calças de cetim cinza e a sua cueca samba-canção azulada ficou à mostra. Agora ele já não sentia mais vergonha. Estava começando a se excitar.

Tirou sua cueca com muito cuidado, mostrando lentamente o seu órgão já ereto. Fez uma cara de safada e sussurrou no seu ouvido, assim que pulou em cima dele:

- Hum, gostosinho você.

Ele não corou. Teria corado. Se fosse outra ocasião, outro lugar, se fosse dito por outra pessoa.

Ela brincou com sua virilidade, engoliu tudo que ele tinha a oferecer para ela. E ele descobriu-se mergulhando em uma delícia até então intocável: o prazer pervertido. Ela terminou de arrancar suas calças. Agora sim, completamente despido, ele se levantou e jogou-a de costas para a cama. Despiu-a, repetindo o gesto dela, provando cada parte do corpo dela. Quente.

Ela sentiu-se do mesmo modo que ele. Talvez até mais. Os dois estavam pegando fogo. Depois de despi-la, ele foi lambendo todo o seu corpo, começando pelo pescoço, rosto, boca, ombros. Repetindo metodicamente tudo o que ela fizera com ele. Chegou ao lugar mais sensível da mulher - o seio - e talvez tenha permanecido ali por horas, até que ela, com um leve toque, empurrou sua cabeça para um lugar mais reservado. A festa estava começando a esquentar.

Ele estava ali, provando o sabor. Era um gosto familiar. Tentou buscar em sua mente ao mesmo tempo em que ia provando mais. Pecado pegajoso que lhe tentava mais e mais. Afastou-se a tentativa. Iria desfrutar a carne.

Desceu a língua por suas pernas até os seus pés. Não sei por qual motivo, mas sabia que mulheres tinham uma sensibilidade singular nos pés. Ainda ficou ali por algum tempo - porém pouco - e subiu de novo. Começaria o trabalho para valer agora.

Assaltou-a. Sem dó, sem piedade, sem medo nem singularidade. Era sua natureza vulgar e seu desejo doentio. Adorou sentir-se dentro dela. Ela, tomada de surpresa, gemeu alto e bafejou em seu pescoço. A carne dos dois se fundia. O contato do corpo dele com o dela era pesado, ao mesmo passo que era suculento. Os dois exibiam-se como pavões tentando conquistar a fêmea. Ele, em pouco tempo, descobriu-se experiente e dominador do desejo feminino. A face do pecado.

O orgasmo dos dois foi atingido no mesmo instante. Por ter se protegido, ele não ousou sair dela quando o teve. Cada um que estivesse mais à flor da pele do que o outro. Por fim, terminaram exaustos. Ele saiu-se dela e derrubou seu corpo ao seu lado, na cama de dossel.

Vestiu sua cueca, suas calças cinza de cetim e pôs o cinto nos suspensórios, mas sem abotoá-lo. Olhou para ela. Ela ainda estava completamente nua, deitada, do mesmo modo como ele a deixara. Exausta.

- Vamos repetir a dose algum dia?

- Por mim, tudo bem.

Deu as costas e, abotoando o cinto e apanhando a calça no mesmo instante, caminhou até uma cadeira, sentou-se e pôs a colocar os sapatos. Não falou mais nada depois disso. Andou lentamente até a porta e, olhando uma vez para trás, ainda vendo aquele corpo escultural que o provocara tanta excitação, fechou a porta atrás de si.

Tropeçou pelo corredor, em direção à saída; deliciado. Agora ele se permitira ficar cismado com aquele sabor. Passou na padaria para pedir um pão. E viu um pote de mel. Era isso. Ela tinha sabor de mel. Acabou comprando o pote de mel também. Poderia aproveitar um pouquinho mais daquele sabor.


Texto meu e do Sauro