terça-feira, 15 de julho de 2008

Sobre respirar e sentir o ar


Qual a diferença entre viver e respirar?


Há pessoas que pensam. Outras que sofrem. Outras que sentem. Outras que agem.
Pessoas podem mudar o mundo. Pessoas podem tudo.
Inclusive, há pessoas poderosas. Que podem mesmo mudar qualquer coisa ao seu alcance.
Porém, há pessoas que somente respiram.


Há e sempre haverá a grande diferença entre ver e enxergar. A grande diferença entre falar e dizer. Diferença entre olhar e perceber. Diferença entre ouvir e escutar. Há pessoas diferentes. Contudo, há pessoas iguais.

Pessoas iguais só sabem respirar. Essas pessoas não são felizes como dizem ser, e podem ser muito, muito ricas, mas sequer percebem, sequer sentem alguma coisa. Apenas respiram, o ar lhes mantêm vivas. A mistura de hidrogênio e oxigênio está ali, mantento-lhes em pé, jurando que possam ser saudáveis o bastante para serem livres.

Essas pessoas não conseguem escutar. São cegas. Não dizem absolutamente nada. E o que falam ou pensam que falam é de outra língua, é de um código imaginável e ininteligível. Pessoas assim moram em suas casas, vivem apodrecendo em seus casulos. Por esse motivo não conversam com ninguém, não conseguem ter uma comunicação adequada. E quando conseguem, é só por uma noite, uma tarde, ou qualquer período inexpressivo e curto.

Pessoas que só sabem respirar não têm amigos verdadeiros. Usam as pessoas para uma estratégia qualquer que lhe trará mais felicidade enlatata, em forma de papel ou uma peça mecânica nova. Elas só querem saber de criar suas crias e amarrotar qualquer coisa que venha ser diferente de seus cotidianos.
Elas ensinam as menores a crescerem. Ensinam suas crias a seguirem seus exemplos e, quando menos esperam, seus descendentes já estão indo embora...

Pessoas que não sentem, preferem fazer de qualquer jeito. Preferem deixar morfar e quebrar até não ter mais concerto a comprar um novo e gastar menos. Preferem andar sem rumo a lerem algo significativo. Preferem morrer dentro de si e nem perceberem a viver e ser percebido.

Entretanto, em meio há tanta gente que só sabe respirar, há alguém que vive. Esse alguém pode ser qualquer um - ele é invisível. Invisível as pessoas que não olham, intocável às pessoas que não sentem. Mas esse alguém existe - e outras pessoas o conhecem. E ele pode fazer mudanças na vida de qualquer um. É só olhar para um lado que não foi olhado. Ele pode ser percebido.

Quando se olha para um lado que ainda não foi olhado, suas rédeas são soltas e a viseira cai. Dizem que quem olhou para esse lado ficou louco de felicidade: e anda por aí saltitando, sem rumo. Quem olha para esse lado, também começa a sentir as coisas de uma maneira diferente. E acabam crescendo e sorrindo, vendo alguns lados divertidos de uma coisa que aparenta ser cabulosa - ou quando pensam que tudo dá errado. Pessoas que descobrem isso, acabam mudando de idéia e nunca mais passam a se comunicar com as outras - as que só respiram.

Pessoas assim enchergam, percebem, escutam e dizem coisas que parecem não servirem para as outras. São coisas diferentes demais, das quais as outras não estão habituadas. Então essas outras preferem mudar de assunto ou fazerem uma cara feia e dar as costas.
Essas pessoas diferentes, você pode encontrar em qualquer lugar do mundo. Elas estão entre qualquer sociedade, em qualquer estado - isso realmente não importa. Tudo o que você deve fazer é olhar para um lado que parece embaçado, sem foco, sem importância.

Então, você ou conheçe alguém assim ou se torna um individuavelmente, o que acaba lhe levando ao lugar onde pessoas que vivem realmente se encontram nos sábados à noite. E, olhem só, elas não respiram. Elas sentem o ar.


Quem sabe, um dia, todo mundo parará para olhar esse lado.