quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Princesa

O problema é que eu me sinto velha.

Não é culpa dos garotos que vejo passearem pela praia. Não é culpa dos seus hormônios estarem sempre acentuados e excitados, enquanto eu fico aqui, trancada nesse inferninho que, carinhosamente, chamo de quarto. Não é culpa deles, mas não sei se concordo que a culpa seja toda minha.

Eu bem que tento. Tento ficar perto dos adolescentes normais, tento olhar através dos olhos deles, tento ser como eles. Mas, é complicado, comigo não funciona. Não sei o que é; só sei que não funciona. Tentar não me custa tempo nem esforço - geralmente, é bem fácil lidar com eles -, mas eu realmente não me sinto bem. Não me sinto sendo eu quando estou com eles.

Tomo como exemplo o garoto que, impulsivamente, sou 'afim'. Ele é amigo do meu irmão, portanto quase sempre o vejo pelos corredores. Mas não é tão fácil assim, já que ele é meio lerdo; causa das coisas que ele perde tempo fazendo no quarto do meu irmão. Mas, mesmo assim, ainda insisito em gostar dele, para tentar me igualar à eles.

Meio contraditório, não?!

Olhando-os daqui da minha janela - meu quarto fica no segundo andar da casa -, percebo o que eles não vêem. Vejo os detalhes, as nuances dos movimentos, mesmo sem ouvir nada. Consigo notar que uma garota está abraçada com o garoto que eu "gosto". Mas, incrivelmente, não sinto nada. Na verdade, me sinto mais estranha do que o normal. Era para eu estar lá, com eles.

Minha mãe insiste em dizer que eu deveria sair desse quarto, respirar o ar tão bom da praia. Eu replico dizendo que já sinto a maresia suficiente - ela já está acabando meu guarda-roupa. Mas acabo me arrependendo depois de aceitar isso, de aceitar ser estranha assim. Talvez isso me traga alguma recompensa um dia. Ou não.

Os amigos do meu irmão são pessoas legais - são os únicos adolescentes que eu tenho contato. Fora eles, eu apenas obsevo os outros. Desejando ser igual, por um lado. Mas por outro, quem sabe, eu não poderia aproveitar esse meu isolamento. Então eu escrevo.

Escrevo tentando me afastar dessas angústias de ser o que não sou. Escrevo para me libertar, escrevo pelo prazer que as linhas me dão, quando os outros têm tantos prazeres quanto o meu. Prazeres diferentes, que eu talvez nunca irei descobrir. Deve ser tão prazeroso ser um adolescente. E eu fico aqui, perdida, me achando mais velha que minha própria mãe.

Resultado? Que nada. Ninguém vê. Eu escondo tudo, prefiro não me mostrar. Não que eu não queria que ninguém saiba - talvez se alguém mais soubesse, eu não me limitava tanto às folhas de oficio - mas é só que eu não gosto de sair me expondo a torto e a direito. Talvez exista alguém que seja assim, mas eu não.

Então eu me canso. Me canso de ser assim, adulta demais. Canso de tentar ser o que não sou, canso de me isolar. E ficando aqui, cansada, sem me aguentar por mais um segundo é que parto para as histórias. Contos de fadas. É disso que eu vivo - esse é o meu alimento. Minha utópica vida de princesa, sem sapos e castelos.