domingo, 21 de setembro de 2008

Sua beleza magistral

Eu sempre fui invejoso.

Tudo começou quando comprei meu primeiro carro. Eu tinha oito anos e o carro era uma miniatura - é claro! - de um Corcel. Os tempos foram passando, mas, como sempre fui de família pobre, não pude ter mais do que dois ou três carros. Todos os garotos da rua tinham muito mais miniaturas do que eu, que possuía mais alguns, mas só brincava com meu Corcel. Aquilo me roía por dentro.

Depois eu cresci. Consegui vencer, comprei um Corcel de verdade, me tornei um grande empresário, passei por cima de todos os garotos da minha rua. Me deixei levar pela frieza do ser. Me tornei esnobe. Não falava com quem não conhecia e, ainda mais, os humilhava como se fossem esterco. Eu era o pior homem do mundo, mas me achava o máximo.

Os tempos foram passando e, quanto mais trabalhava, menos falava com as pessoas, mais dinheiro ganhava. O poder me subiu a cabeça. Me afastei da minha família completamente, mudei de cidade para trabalhar, vivia somente para minha empresa. A essas tantas eu já era o dono.

Até que, um dia, tudo mudou. Estava eu no escritório, trabalhando, tudo certo. Quando minha supostamente nova secretária entrou na sala.

Seu cheiro invadiu a sala, incrivelmente, me intoxicando. Não me liguei, por um instante, olhando para os gráficos no computador, completamente embebido por aquele perfume. Assim que levantei o rosto vi aquele corpo esguio, a face afilada, os olhos grandes, o cabelo jogado para trás num lenço estilizado. Seu cabelo liso e loiro era tão grande e cheirava tão bem a cada passo que ela se aproximava. Não reparei na roupa. Era sua forma que me deixava doido - tanto por cima quanto por baixo. Meu membro começou a se exaltar... Calma, calma, pensei comigo mesmo.

Pode parecer a coisa mais idiota, principalmente para um homem como eu, mas, pela primeira vez na minha vida, eu me sentia apaixonado. E tinha sido à primeira vista! Quanto mais ela se esgueirava pelo meu escritório, mais forte eu sentia seu cheiro. Não conseguia desviar os olhos dela, olhava-a de cima à baixo, enlevado por sua beleza magistral.

Ela apresentou-se:
- Boa tarde, senhor - Educada, já gostei. - Sou Anali, sua nova secretária.
Interrompi-a:
- Vai ficar até quando?
- Até o fim do ano - ela respondeu. Meu órgão se excitou ainda mais. Meu deus, conviver com uma deusa dessa na minha sala, não ia dar certo.
- O que vai fazer hoje à noite? - perguntei de supetão, sem pensar no que estava fazendo. Não tinha como pensar perto dela. Eu estava bêbado da sua presença.
- Ahn... não sei, nada, talvez assistir a um filme na TV. O senhor tem que assinar esses papéis aqui - ela me mostrou uma pilha de papéis que carregava, mas não dei atenção. Só olhava para seu rosto, seus seios, sua barriga, tudo parecia perfeito demais para ser verdade.
- Saia comigo. Às sete, pego você em casa. Esteja pronta e preparada para andar de Ferrari. Acredito que pela primeira vez, sim?
Ela apenas assentiu, vermelha. Tímida, melhor. Estava cansado de mulher atirada demais, como era as que eu pedia.


Às sete apareci na sua casa. Ela apareceu na porta assim que eu estacionei e buzinei. Parecia estar pronta há muito mais tempo do que eu pensaria que estivesse, concluí. Ela entrou no carro de uma forma tão, tão sexy que quase não consegui dirigir. Estava ao meu lado. Seu cheiro me embebedando de novo.

Não gosto de falar de condescendências, porque só foi isso o nosso papo. Ela era realmente muito tímida, então não a levei pra cama logo no primeiro encontro - como era a minha vontade pulsante. Mas, aconteceu que, depois desse dia, me apaixonei. Acordei no outro dia - mesmo sem tê-la na minha cama, se enroscando nos lençóis, seu enorme cabelo largado no travesseiro, seu corpo serpentino passeando pela cama... - com uma paz enorme no peito, uma compaixão tão grande que todos perceberam.

Os dias foram passando, e eu descobri que ela também estava apaixonada por mim. O clima antes tenso da empresa agora era leve e suave como vento. Sua presença mudara tudo ali dentro. Meses depois me aposentei e convidei-a para morar comigo longe dali, onde poderíamos construir nossa família - que era seu sonho e, impressionantemente, descobri que também era o meu. Ela aceitou sem hesitar e fomos morar juntos.

Hoje, ainda tenho o Corcel de miniatura de infância. Lembro de tudo, lembro de como fui ruim para as pessoas e ainda tenho a vontade de voltar e me redimir com todos. Mas primeiro que nem todos daquela época ainda estão vivos e nem sei se, os que restaram, acreditariam em mim.

Me formei um novo homem. E tudo por causa de uma beleza sutil. Parece impossível, mas acreditem, aconteceu.

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Agora sim, cumprindo o desafio do Jeff. Rá! Não ficou tão ruim assim, ficou?