domingo, 3 de maio de 2009

Meias coloridas e sorriso de Alice

Meu amor,

Ontem eu acordei com muito sono e não pude escrever. Estava tão cansada que passei o dia inteiro praticamente dormindo, coisa que eu adoro, você sabe. Mas hoje eu não deixei passar e tirei um tempinho do meu dia (segundas-feiras são sempre cheias) para lhe escrever isso que há tempos venho querendo fazer.

Esses dias eu vi de novo aquelas crianças brincando na rua. De novo elas estavam soltando pipa. Eu parei de trabalhar um pouco e fiquei na varanda só observando os papagaios cortarem o céu, vermelhos, azuis, rosas e amarelos. Eram tão lindos e eu só lembrei de nós dois, quando vimos eles do mesmo jeito. Você se lembra, meu amor? Eu me senti tão bem aquele dia. Nós só ficamos observando as pipas passearem pelo céu, e caírem devagar, mas logo alçarem vôo novamente, os garotos da rua controlando. Tão inocente e ingênuo.

Mais tarde vou sair, hoje o céu tem lua com o sorriso do gato de Alice. Ele me deixa mais tranquila, não é aquele borbulhão de emoções que a lua cheia me trás. Mas não se preocupe, meu bem, não vou a lugares esquisitos ou perigosos. Caminharei pela rua só, de bicicleta, com aquele All-Star surrado que era seu, e agora é meu, ou será nosso? Também vou usar meu cachecol colorido, esse que você ama, mas só por enquanto. Você sabe que o meu preferido é o marrom, mas estou guardando para usar quando chegar.


Por falar nisso, eu já comprei as passagens. Minha mala está quase pronta, leve, sem pesar. Vou tranquila como passarinho, porque sei que quando chegar aí vou ter aquele beijo carinhoso seu de recepção. Por mim, passarinha minha eternidade aí, do teu lado. Mas você sabe que eu não posso. Mas, quando eu estiver saindo, quero te dar um abraço bom, como despedida de quem sabe que volta um dia, em breve. Você sabe que eu volto. Eu sempre volto.


Você sempre teve a curiosidade de saber como eu estou vestida quando lhe escrevo as cartas. Pois agora estou de short e uma blusa amarela clara, e, advinhe só: com aquelas meias coloridas que você tanto ama me ver vestida. Pois estou com elas até os joelhos, e sem nada nos pés, a não ser a sandália para transitar em casa. Mas, meu bem, acho que agora não vou mais poder ficar assim (como eu queria!) porque mamãe está chamando e os garotos lá foram gritam e brincam, como se jogassem futebol com as pipas.

Agora vou ter que ir mesmo, meu bem. Minha mãe chama e não escuto mais os garotos da rua (talvez suas mães também estivessem chamando). Diga a tia Cátia que a adoro e mande um abraço a todos da sua casa. E não esqueça, nunca, que eu amo você mais do que tudo nessa vida.


Abraços e beijos.

Beatriz.
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Carta inspirada na música Noite Clara de Ludov:

Noite Clara
Mauro Motoki/Habacuque Lima

Vem cá me dar um abraço bom
Como a despedida
De quem sabe que volta
Um dia

Pipa no ar de papel crepom
Grito de torcida
Minha alma está solta

Saudades no coração
Roupas de frio no verão
A lua crescente sorri
Ainda é noite clara aqui

Lá vou usar meu cachecol marrom
Meias coloridas
E no peito essa nossa
Poesia

Você está ao alcance do som
É hora da partida
Minha mala está pronta

Saudades no coração
Roupas de frio no verão
A rua inteira sorri
Ainda é noite clara aqui

Levo a mala leve, sem pesar
Sei que vou voltar
Em breve