sexta-feira, 19 de junho de 2009

Misto-Quente - Charles Bukowski

Imagine-se ser alemão vivendo nos Estados Unidos de 1929? Imagine então ser filho de um pai autoritário e bruto, uma mãe passiva e ignorante, amigos que são mais detestáveis do que qualquer solidão, muitas brigas e muitas espinhas, completamente virgem e ter apenas a certeza que não servirá de nada no país em meio a Grande Depressão. Talvez este fosse um cenário horrível, mas não para Henry Chinaski, protagonista do livro Misto-Quente, de Charles Bukowski.

Quem pensa que o livro é totalmente autobiográfico, se engana. O autor mistura ficção com realidade numa narrativa impressionante e simples, fazendo com que as páginas voem sem perceber. No entanto, não é leitura para qualquer um. Os que não estão acostumados com o estilo de Bukowski, se assustam com tamanha sinceridade que a história é contada. O personagem se depara com questões da vida, pessoais e impessoais, de um peso gigantesco, mas que não deixam de ser engraçadas. Bukowski captura as duras verdades, que todos deveriam ouvir algum dia, e mistura com masturbações nas aulas de inglês e jogos de beisebol. Tudo de uma forma cômica, porém dura e real.
"Ele era um sujeitomuito sério, mas ele podia me levar ao riso porque encontrar uma verdade pela primeira vez pode ser uma experiência muito divertida. Quando a verdade de outra pessoa fecha com a sua, e parece que aquilo foi escrito só para você, é maravilhoso"
Passado entre os anos da crise de 29 e o começo da soberania nazista, o protagonista e narrador mistura seu cotidiano de criança com os fatos ocorridos naquela época. Além de tudo, se mete em brigas e mais brigas, apanha do pai, vê sua mãe chorando, aguentando tudo passivamente, e mal se alimenta, mal tem dinheiro para comprar qualquer coisa. Na adolescência, tem uma crise gigantesca de espinhas, algo muito forte e exagerado, que é necessário que ele vá ao hospital receber um tratamento. Enquanto toda sua vida é desfiada, ele mal chega perto de uma mulher, só as observa de longe, e masturba-se, todos os dias, por muito tempo, para quem ele quisesse.

Entre as odiosas pessoas que lhe seguem na saída da escola e ficar sozinho em casa, Henry Chinaski vai crescendo, amadurecendo, procurando ficar sozinho, mas nunca sem conseguir. As espinhas vão melhorando e, então, num dia cheio de aranhas, ele sai de casa. E assim segue sua vida, pairando entre bares e pousadas acabadas, até que ele "sai caminhando".

"Que tempos penosos foram aqueles anos - ter o desejo e a necessidade de viver, mas não a habilidade"


Ótima leitura, mas não para todo mundo. Para quem gosta da sinceridade característica de Bukowski, eu recomendo.