terça-feira, 28 de julho de 2009

Todo mundo está correndo em círculos

Você só passa a ser uma coisa, realmente, quando a carapuça, a capa, a roupa completa cai em você. E não desgruda mais. Você só passa a ser realmente alguma coisa, qualquer que seja, político, desenhista, escritor, músico, professor, quando a pele não é mais pele, e sim o que você faz. Aquilo que te reveste, que te encobre. Você só passa a ser o que você faz quando você vira o que você faz.

Não adianta fingir uma coisa que você não gosta. Não adianta querer ser algo que não dá pra ser. Ou você se enquadra, ou anda perdido no mundo, como uma sombra que não dá sombra pra nada. Shadow. Fumaça. Acaba caindo na mediocridade do mundo, assistindo TV até tarde e sem conseguir pensar em mais nada além do que você vai comer no café da manhã ou quem vai comer no fim da noite. Não adianta. Você precisa ser.

O "ser" é, talvez, um dos mais difíceis desafios da vida. Da humanidade, até. Ninguém mais é. As pessoas apenas vagam por aí, achando que são alguma coisa, fingindo descaradamente (algumas nem tanto) que sabem ou que amam ou que são alguma coisa. De verdade, mesmo, nada acontece. É tudo um grande vazio branco e circular. Todo mundo está correndo em círculos, sempre, e para chegar a lugar nenhum.

Então, se você quer ser alguma coisa, que seja. Mas só se isso realmente for o que você quer ser.
Seja, não esteja.

"Porque, quando você não faz nada, é como se não existisse" - Fábio Moon & Gabriel Bá em Crítica

"O importante não é estar aqui ou ali, mas ser.
E ser é uma ciência delicada, feita de pequenas-grandes observações do cotidiano, dentro e fora da gente.
Se não executarmos essas observações, não chegamos a ser: apenas estamos, e desaparecemos."
Carlos Drummond de Andrade