sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Do vício por música

Saiba você que, em alguma parte do mundo, haverá alguém ouvindo algo que não é desse século, ou lançado semana passada. Saiba você que, em qualquer lugar do mundo, haverá alguém ouvindo algo muito antigo com a mesma eferverscência que você está ouvindo aquela banda que lançou o primeiro disco ontem. Saiba que, em qualquer lugar que você for, vai encontrar alguém que deteste seu próprio século - em matéria de música - e, por isso, só escuta o som do tempo que vivia-se nas ruas cheirando pó, tomando LSD e indo a shows do Velvet Underground. Saiba que, em qualquer lugar do mundo, haverá alguém que irá provar por A + B que aquela sua nova banda preferida é, na verdade, uma merda. E ela vai te convencer, mas isso não vai te fazer parar de ouvir a banda. Porque, quer queira quer não, música é sentimento. E se ela te pega, por pior que seja (ou por mais que te convençam que ela não presta), não haverá saída. Porque gosto é gosto, e, algumas vezes, eles não são feitos para discutir.

Saiba você também que muitas discussões sobre música vão acabar com "Isso é uma merda" contra "Isso é muito bom". Mas isso, é claro, vai depender de banda, de disco e de época.

Saiba que, em alguma parte do mundo, haverá alguém ouvindo nada - ou ouvindo o silêncio, apenas. Saiba também que há uma diferença entre ouvir o silêncio e não ouvir nada: a falta de música não significa que você não a está ouvindo. Afinal, mesmo que você escolha ficar no silêncio, ainda haverá música dentro de você, tocando sem parar, como uma vitrola que nunca desliga. A diferença é que, na vida,  você pode desligar o rádio. Já na cabeça, não é tão fácil assim se desligar da música.

Saiba que, não importa se no Brasil ou na Europa, Estados Unidos ou Japão, haverá alguém sempre com a cabeça cheia demais, pensativa demais, viciada demais para ouvir com cuidado, e absorver música. Ou simplesmente ocupadas demais para despertar o mesmo interesse que o seu sobre música. Entenda que essas pessoas estão interessadas em outras coisas - e que o mundo é maior do que a discografia do Bob Dylan que você acabou de baixar tão facilmente.

Saiba que, não importa que álbum você escute, se ele foi lançado em 69 ou ano passado. O que importa é a energia, a vibe que você sente ao ouvi-lo. Saiba que música não precisa ter época. Música precisa ter feeling. E se você sentiu aquilo enquanto ouvia aquelas guitarras rasgadas, ou aquilo outro quando escutou aqueles pianos delicados, aconteceu alguma coisa. E, quando você menos espera, está lá, viciado em música.

Música que importa, que faz sentido. Que importa mais do que qualquer coisa nesse mundo.