tag:blogger.com,1999:blog-56166852137824589902024-03-07T06:15:20.623-03:00Contos No PapelJéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comBlogger149125tag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-12643131994292584242020-02-17T15:36:00.005-03:002020-02-17T15:36:48.283-03:00Obsessão<div data-p-id="cc0512c5ac44b21765027f8fc11b902e" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você se arruma naquela manhã como se estivesse indo para a guerra. A maquiagem é sua pintura de batalha. Olhos com delineado preto, esfumaçado, muitas camadas de rímel. Blush rosa escuro e batom vermelho. Você se prepara como quem vai enfrentar o seu pior inimigo. De fato, ele é o seu pior inimigo, mas também foi o seu amante e melhor amigo.</span></div>
<div data-p-id="ccbfccac8ed90e103faccb825f6ac875" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você tem vinte e um anos. Já não é mais a adolescente que ele conheceu, alguns anos atrás. Quer mostrar isso para ele, com sua calça <i style="box-sizing: border-box;">legging</i>, blusa transparente estilo quimono e botas de couro. Usa botas de salto para ficar da altura dele. Embora saiba que vai encontrá-lo sentado. Sabe que vai olhar diretamente nos olhos de safira que só ele tem.</span></div>
<div data-p-id="df485de02e253fc1b518389108376263" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você ensaia no espelho: <i style="box-sizing: border-box;">Nossa, desculpa por ter sumido. Eu estava magoada e não sabia como ia reagir quando te encontrasse de novo, depois daquela noite.</i> Você coloca essa pintura no rosto e essas roupas para chamar atenção, porque sabe que ele gosta. Você sabe que ele sempre foi atraído por você, desde o primeiro dia de aula.</span></div>
<div data-p-id="b6898876995e20b48ec3ebb82639cfb8" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E aí está você, sua vagabunda carente, que adora se envolver com homens mais velhos. Aí está você, com essas roupas de adulta, tentando se igualar a ele, tentando arruinar toda o favoritismo que ele tem. Você sabe o que ele conquistou. Ele mesmo te contou como foi difícil. Agora, ele se tornou o melhor professor da faculdade e você quer arruiná-lo com sua obsessão.</span></div>
<div data-p-id="c34ff2b70e58043f14a3f26b7d72b520" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A aula começa e você não presta atenção no que ele fala. Fita-o com olhares de serpente, querendo petrificá-lo. A sua vontade é colocá-lo numa gaiola e levá-lo para casa. Para o seu apartamento, não para a mansão onde ele mora com uma esposa e duas filhas. As filhas que você nunca chegou a conhecer, mas que você viu no perfil dele no Facebook. Você não cansa de visitar o perfil dele todos os dias, mesmo ele nunca tendo aceitado o seu pedido de amizade.</span></div>
<div data-p-id="e27112d3aaaf1846916421bf8ae83a10" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você sempre quis mais do que amizade. E ficou muito claro para você, quando saíram juntos, que ele também queria. Era só um café, mas virou uma noite de muitas cervejas. Ele disse que precisava voltar cedo, mas acabou indo embora com você. <i style="box-sizing: border-box;">Foi culpa da cerveja</i>, você pensa em dizer para ele, <i style="box-sizing: border-box;">isso não devia ter acontecido</i>. Mentira. Era o que você mais queria que acontecesse.</span></div>
<div data-p-id="98972ff179beb10720754902b53abb10" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você espera pacientemente que todos os alunos saiam da sala. Aproxima-se fingindo que quer falar com ele sobre um assunto da aula. Mas ele sabe que não se trata disso. Você se senta numa cadeira em frente à mesa. Ele também se senta na sua cadeira de professor. O olhar dele está disperso. O silêncio pesa no ar.</span></div>
<div data-p-id="e6b9ce50841efe0568726aa29af83cd3" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você começa:<i style="box-sizing: border-box;"> Ah, merda, me desculpa por ter sumido. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Bebemos muito. Foi tudo culpa da bebida.</i></span></div>
<div data-p-id="f2b0892e4946f50a438efe7f2db37d92" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eis você aqui de novo, tentando destruir o professor do ano. Você sabe que ele é sensível às suas investidas. Ele não responde enquanto você pede perdão, como uma criança que fez algo errado. Aquelas roupas de adulta que você vestiu começam a não fazer sentido. Ele suspira e você sente o hálito dele: cigarros mentolados. Iguais aos seus.</span></div>
<div data-p-id="c3c8fcacbbea3c8479681dd93b58ddd4" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Os olhos dele correm pelos cantos da sala até que encontram os seus. São como dois topázios escuros, severos, mais velhos do que você se lembra. <i style="box-sizing: border-box;">Isso não pode acontecer de novo</i>, ele pronuncia com uma voz firme. A mesma que te mandou tirar a roupa quando vocês chegaram ao seu apartamento naquela noite.</span></div>
<div data-p-id="71e7688994b03905b2aa9641fb69f4a6" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você sabe disso, mas insiste. Quer alimentar tudo o que sente por aquele homem mais velho. Você o deseja profundamente, uma necessidade antiga que vem se retroalimentando há anos. Sentada, aqui e agora, você é puro vício. Uma obsessão adequada às suas roupas de adulta.</span></div>
<div data-p-id="ac039838464f3181f4d2c39bafe24edf" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ele faz menção de se levantar. Alguém bate na porta e abre uma fresta. Ele dá um sorriso amarelo, nervoso. A pessoa na porta se engana e fecha. O silêncio novamente impera entre os dois. Você o encara com olhos de medusa. Ele desvia o olhar, volta à mesa, encara o celular, incomodado.</span></div>
<div data-p-id="e1696d9668d577d6d53f4cf8ac292249" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ele diz: <i style="box-sizing: border-box;">se você preferir, não precisa mais vir às aulas. Apenas faça as atividades que envio no site da faculdade. Eu não vou te reprovar.</i></span></div>
<div data-p-id="c7c228ca6ba0edef6cce5689ac464565" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você sente um frio tomar conta do corpo. Percebe que ele está tentando te afastar, te rejeitar. Você sabe que merece isso, afinal, você que provocou essa história toda com suas investidas depois da aula. Mas o seu desejo é maior. Você reluta: <i style="box-sizing: border-box;">vou continuar vindo, não se preocupe</i>.</span></div>
<div data-p-id="402a588837f6e6cbc48db5d738d95df0" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Quando ele se levanta, você se coloca de pé logo em seguida e vê que está da altura dele. Olha-o nos olhos, transmitindo o peso da sua necessidade, sua ânsia viciante passando para ele como eletricidade. Ele desvia o olhar novamente, dessa vez mirando a porta.</span></div>
<div data-p-id="f7a15b2d9fda7e5fb30dda3cb7b5fc0e" style="box-sizing: border-box; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 24px; padding: 0px;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mais um aluno abre uma fresta. É a deixa que ele precisava para fugir dali, mesmo sob o seu controle. Mesmo sob o seu olhar de águia por cima dos ombros dele, vendo-o se afastar e fechar a porta atrás de si. Você se vê sozinha na sala de aula. Sozinha, como sempre estará, para o resto da sua vida.</span></div>
<br />
<figure contenteditable="false" style="box-sizing: border-box; cursor: default; margin: 0px; position: relative;"><div data-image-layout="one-horizontal" data-media-type="image" data-p-id="38a46ea89b76c06d59b4de06c122639f" style="box-sizing: border-box; font-family: "Source Sans Pro", "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 24px; margin-bottom: 30px; margin-top: 30px; padding: 0px; position: relative; text-align: center;">
<img alt=" Sozinha, como sempre estará, para o resto da sua vida" data-original-height="3456" data-original-width="5184" src="https://em.wattpad.com/d897f3c0ee481f8d65ac48b623e2e607252f92eb/68747470733a2f2f73332e616d617a6f6e6177732e636f6d2f776174747061642d6d656469612d736572766963652f53746f7279496d6167652f733554595172444e7a63507065513d3d2d3833393837323137362e313566343336316330626663613865383932353334333433363631332e6a7067?s=fit&w=1280&h=1280" style="border: 0px; box-sizing: border-box; max-width: 100%; vertical-align: middle;" /> </div>
</figure><br />
<div data-p-id="a250cd55517717c7cdc3a5744a13fa83" style="box-sizing: border-box; font-family: "Source Sans Pro", "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 18px; line-height: 24px; margin: 0px 0px 24px; padding: 0px;">
<i style="box-sizing: border-box;">Fotos: Unsplash</i></div>
Jéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-88719507967293737732018-05-19T12:50:00.002-03:002018-05-19T12:50:25.377-03:00Eu me entrego.<br />
Qual é a forma do vazio?<br />
Quando não há nada, o que sobra?<br />
Quando estou só e não tenho nada a perder, o que resta?<br />
<br />
O céu cai sobre mim. É manhã, os primeiros raios de sol começam a surgir, acordando o dia com sua luz e calor. Estou deitada na areia, de braços abertos, olhando. O vento sopra, suave. Não sinto absolutamente nada.<br />
<br />
É absurdo acreditar na existência como um vazio. Passamos a vida inteira dando tantos significados aos nossos dias, às nossas atitudes, ao que falamos para os outros. O tempo todo estamos buscando significado, tentando encontrar nosso propósito, nossa missão nesse mundo.<br />
<br />
Não há. Tudo que há é um grande nada, sem forma, sem som, sem gosto.<br />
Apenas vazio.<br />
<br />
Por muito tempo, eu acreditei que estava dando significado à minha vida. Acreditei que estava correndo atrás dos meus sonhos, que meu trabalho me satisfazia, que eu tinha um relacionamento agradável.<br />
<br />
Acreditei que tinha uma vida satisfeita, completa, plena, embora sempre faltasse alguma coisa. Embora sempre existisse outro lugar pra ir, uma nova viagem a fazer, algo novo pra comprar ou até uma nova especialização. Acreditava que essa busca era o motor que me motivava a acordar todos os dias e seguir em frente.<br />
<br />
Agora, aqui deitada na areia da praia, olhando o céu amanhecer, percebo como tudo poderia ter sido bem mais simples. Tudo teria sido leve, como essa brisa da praia, se eu apenas tivesse aceitado o vazio que é a minha existência.<br />
<br />
Como dar significado a algo que você não sabe definir?<br />
<br />
Deitada na areia, olho para a imensidão acima de mim, e a impressão que dá é que o céu me abraça, na sua forma ovalada. O céu me acolhe e envolve todo esse mundo, o planeta terra na sua completude e grandiosidade. Você consegue ver a delicada película que dá forma ao céu?<br />
<br />
O amanhecer é impressionante. Uma mistura de cores se apresenta na minha frente, como pinceladas que vão delicadamente sendo colocadas numa tela sem bordas. Não há bordas no céu. Não há forma. Um nada que envolve tudo. Pensar nisso, neste momento, me traz uma sensação de paz. Mas eu sei que essas sensação é passageira, pois se eu for mais fundo, percebo que não há sensação. Não há o que sentir, o vazio me engole.<br />
<br />
Ao mesmo tempo, sinto tudo. A temperatura. A brisa. Os raios de sol. Ouço as ondas do mar como se elas estivessem dentro de mim. Se eu fechar os olhos, sinto como se deixasse de existir. Eu posso morrer agora e ainda sim estarei viva.<br />
<br />
Em meio a essa imensidão, o vazio não me parece tão assustador como eu costumava acreditar. Na verdade, é até reconfortante. Meus pensamentos vêm e vão, eu os deixo serem levados pelo vento, deixo-os serem carregados pelas ondas do mar. Tudo está parado, ao mesmo tempo em movimento.<br />
<br />
Há uma incrível sensação de paz quando não há nada para fazer ou nenhum lugar onde estar.<br />
Há paz quando toda culpa e pesar do passado se transformou num sonho que eu já nem lembro mais.<br />
<br />
Até essas palavras aqui parecem pesadas para o que vivencio neste momento. Elas tentam dar forma ao vazio. Tentam explicá-lo, conceituá-lo, defini-lo. Não há definição.<br />
<br />
Eu sinto minha existência se complementar com a areia. Com os raios de sol, agora mais quentes. Com as nuvens no céu e a brisa. Fecho os olhos e sinto meu corpo leve. Sinto meu respirar, suave.<br />
<br />
Tudo está parado e ao mesmo tempo tudo é vida.<br />
<br />
Uma sensação incrível de alegria me inunda. Eu não tenho nada. Não quero ser nada. Minha existência é completamente sem importância. E isso é incrivelmente libertador. Eu sou como uma brisa leve, sem forma, sem gosto, ao mesmo tempo se adaptando a qualquer ambiente. Misturando-se ao que é apresentado aqui e agora. Tomando a forma que for necessária no momento. Eu não sou nada além desse movimento que inspira e expira.<br />
<br />
Canso de tentar definir o que sinto em raciocínios. Canso de tirar conclusões. Este momento é único, como todos os momentos da minha vida. Tudo o que vivi, se transformou num sonho, cujas partes eu lembro só algumas. Todas as projeções que crio para o futuro também parecem sonhos, momentos que eu não vivi, mas minha mente experimenta, baseado no que tenho de referência na minha memória.<br />
<br />
A única coisa que pode importar, de alguma maneira, é este momento.<br />
Aqui, agora.<br />
<br />
Estou deitada na areia de uma praia deserta e o vazio toma conta de mim.<br />
Tudo está vazio e ao mesmo tempo cheio.<br />
<br />
Eu me levanto. Grãos de areia voam por mim, pinicando minha pele e o meu rosto. Eu respiro. O sol agora está mais visível no horizonte. A luz ilumina e esquenta minha pele. Eu tiro a roupa. Caminho ao mar, um pé depois o outro. As ondas molham meus pés. Caminho para dentro, sem olhar para trás. Uma onda mais forte tenta me derrubar. Eu resisto e sigo em frente. Mais fundo. Sinto meu corpo ser levado com o movimento das ondas. Mais fundo. As ondas fortes me derrubam, e eu só me deixo levar. Levanto-me e sigo a caminhar para dentro do mar. Mais fundo. As águas cobrem meu peito, meus pés se afastam do chão. Eu me deixo levar por aquele momento. Meu corpo é leve. As ondas me carregam sem destino certo.<br />
<br />
Eu me entrego.Jéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-1712650689993824482016-12-13T13:35:00.001-03:002020-01-16T01:47:49.690-03:00Cortina de Miçangas <div dir="ltr">
Você colocou uma cortina de miçangas entre nós. Cortina de miçangas que dá pra ver um pouco do que está do outro lado, mas não tudo. </div>
<div dir="ltr">
Eu estou aqui de porta aberta, deitada no sofá, te convidando e esperando você entrar. Você está aí, na entrada de casa, segurando a porta entreaberta e conversando comigo, sem saber ao certo se entra ou não. Sem saber se fica por mais alguns minutos ou se vai embora sem dizer nada.</div>
<div dir="ltr">
Em algum momento, com cautela, você decidiu entrar e trespassar a cortina de miçangas e me olhou com olhos de amizade. Olhos que transmitiam uma mensagem de cor azul claro como o céu. </div>
<div dir="ltr">
De repente, assim no tempo de um piscar de olhos, toda magia criada na minha cabeça, todos os sonhos, desvanesceu. </div>
<div dir="ltr">
Fiquei um pouco em choque no começo, um processo interno que talvez você entenderia, já que me conhece tão bem. E esperançosa como sou, ainda fiquei com aquele gostinho amargo do fim na boca, depois que você foi embora. Ainda deixei comigo minhas utopias, que se tornam ouro com o passar do tempo. </div>
<div dir="ltr">
Mas, em algum momento daquele fim de semana de dezembro, eu consegui te deixar pra trás. O seu novo corte de cabelo me ajudou a te esquecer. As nossas atitudes perante o outro também deixaram minha mente mais azul cor do céu. Por fim, fiquei feliz de você ter tido coragem de passar a cortina de miçangas entre nós, ficar de pé do meu lado do sofá e dito com a sinceridade que as boas amizades pedem: </div>
<div dir="ltr">
- Quero compartilhar uma coisa contigo. Afasta aí pra eu sentar do teu lado. </div>
<div dir="ltr">
Aturdida, inexpressiva, vi aquela cena e demorei alguns segundos para raciocinar. Então levantei e respondi:</div>
<div dir="ltr">
- Senta aí, vou pegar um vinho pra gente tomar. </div>
Jéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-75155256380204800082016-07-17T23:16:00.002-03:002016-07-17T23:16:59.621-03:00Primeiro, o amor. Depois, o desencanto.<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
"Então, quando não havíamos avançado sequer dois quilômetros, vimos dois carneiros com chifres enormes sobre uma colina, descendo apressadamente por uma crista de cascalho. Mais uma vez paramos o carro e saltamos. Muito embora estivesse terrivelmente frio no alto das montanhas, ficamos observando aquelas duas criaturas até que elas também desaparecessem dentro do bosque.</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
Seguimos adiante e ficamos ambos quietos, digerindo a aparição desses animais em nossas vidas, assim como o seu significado. O que é um cervo? O que é um carneiro com grandes chifres? Por que algumas criaturas nos atraem e outras não? O que são criaturas?</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
Pensei nas minhas próprias preferências. Gosto dos cães porque eles amam sempre a mesma pessoa. Sua mãe gosta dos gatos porque eles sabem o que querem. Acho que, se os gatos tivessem o dobro do tamanho que têm, provavelmente seriam proibidos. Porém, se os cães tivessem até mesmo três vezes o tamanho que têm, ainda assim seriam bons amigos. Pense nisso".</blockquote>
<br />
Trecho do livro "Primeiro o amor, depois o desencanto" de Douglas Coupland. Uma obra literária que sempre esteve presente na minha vida. Vira e mexe eu leio trechos desse livro, alguma coisa sempre me remete a ele.<br />
<blockquote class="tr_bq">
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
</blockquote>
Jéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-22543442674777984652015-12-06T00:00:00.001-03:002015-12-06T00:03:27.109-03:00Falta Tempo<div style="text-align: center;">
<img height="268" src="http://static.tumblr.com/3b5e0c0e58227ea2db5c91d6159af28e/nhfzi9v/lc4nead1n/tumblr_static_dn96ryf4fd440gg04soow0g0.jpg" width="400" /></div>
<br />
Por que parei de escrever contos literários? Por que doei minhas habilidades ao mercado, caindo nos padrões e formatos da indústria, usando minha criatividade para assuntos comerciais? Por que não consigo voltar a escrever coisas bonitas e inspiradoras como fazia antes?<br />
<br />
Falta tempo. Falta esforço cognitivo pra pensar em algo bonito. O mundo não é mais um arco-íris. Ainda que aconteçam coisas legais nele. O mundo que eu imaginava antes não existe mais, tornou-se cinza, meio bege e ganhou outras prioridades. Deixei até de colocar vírgula antes do "e" na frase, porque aprendi isso numa das poucas redações de jornal que passei.<br />
<br />
Agora, a escrita virou ferramenta de trabalho, virou exercício diário. Virou um trabalho mecânico. Cansa escrever, principalmente sobre algo que você não tem interesse. Principalmente quando é o seu ganha-pão, e você precisa fazê-lo de alguma maneira, pois é a única habilidade que você tem. E você precisa agradar, e ser pelo menos "boa", pois existem milhares de outras pessoas que também sabem escrever. Escrever é "fácil", ainda mais quando há computadores, tablets e celulares que ajudam a compor as ideias com mais rapidez que lápis e papel.<br />
<br />
Either way, ainda me sinto feliz de voltar aqui eventualmente e ver como eu evoluí ao longo do tempo nos termos de escrita. Tanto nas descrições literárias de situações amorosas, quanto nas análises pessoais. Um texto meu, <a href="http://contosnopapel.blogspot.com.br/2008/04/o-que-deus-pra-voc.html">"o que é Deus pra você?"</a>, escrevi em 2008 - quando tinha 17 anos de idade. <b>Dezessete! </b><br />
<br />
Nessa época, o blog era só um lugar pra colocar pra fora qualquer pensamento que vinha na minha cabeça. E pra imitar os autores que eu lia incessantemente. Hoje, até a leitura mudou - deixou de ser literária e romântica, pra se tornar científica, analítica, ideológica, contemporânea, acadêmica.<br />
<br />
"Você escreve maravilhosamente bem. Não deixe isso morrer dentro de você". Recebi esse comentário em 2012 e toda vez que venho aqui, fico pensando se estou deixando a escrita morrer dentro de mim, pouco a pouco, com o passar dos anos. Por que agora virou trabalho, deixou de ser prazer. E quando se tem trabalho, falta tempo. Você chega em casa cansada. Não quer fazer nada, a não ser assistir algo no computador e dormir.<br />
<br />
Saudades de ter tempo pra pensar em coisas bonitas e escrever sobre elas. Espero que minha escrita se aperfeiçoe com o tempo, mesmo não sendo mais tão literária. Tentar sempre melhorar, é o objetivo.<br />
<br />
Como sempre, muitas saudades desse lugar.<br />
<br />Jéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-66954503425973363422015-07-29T08:29:00.000-03:002015-07-29T09:29:52.783-03:00O sonho dentro do sonho<br />
<div style="text-align: justify;">
Chovia forte lá fora. No emaranhado de lençóis e endredons, ela dormia. Sua respiração era profunda, sonora. Os cabelos encaracolados espalhados pelo travesseiro formavam a imagem de uma estrela com incontáveis pernas. Era manhã, dava pra sentir o sol tentando passar pelas pesadas nuvens de chuva. No quarto, a atmosfera deixava até os mais agitados com sono. Respirando profundamente, ela sonhava com deuses antigos que deixaram de existir pois ninguém acreditava mais neles.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eles vinham visitá-la num salão grande e vazio, rodeado por estátuas, e sussurravam suas mensagens pra ela. Ela se sentia pequena e muito amada. Os deuses que deixaram de existir, deitaram ela num berço pequeno, mas muito aconchegante. E começaram a sussurrar, juntos, uma antiga cantiga. "Durma, menina, durma. O sol está à caminho, mas não irá te despertar. Sonha, menina, sonha. A noite está sumindo e o dia está pra começar". Aninhou-se nos lençóis e começou a sonhar.</div>
<br />
#The100DayProjectJéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-64298332505491628602015-02-23T22:31:00.000-03:002015-02-23T22:31:39.663-03:00Moinho na cabeçaPorque há essa necessidade de colocar os pensamentos em ordem. De fazer algo da vida. De escrever, de ler, de assistir filmes. De escrever sobre os filmes que assisto. E as séries? São tantas, que perdi a conta. E haja vontade de fazer, produzir, compartilhar ideias, projetos. De ser independente, de ter meu próprio negócio, de fazer o que gosto. Porque há essa necessidade, que cresce na minha mente mas (quase) nunca chega ao papel. É como um enrolado de pensamentos, uma mistura de ideias, um moinho de frases, textos, parágrafos, palavras. Muitos se perdem, ficam nos entremeados do inconsciente, perdidos entre as memórias mais doces e as lembranças irrecuperáveis. O que eu estava pensando mesmo? Ah, em começar um blog novo. Em trabalhar por conta própria. Em abrir uma empresa nova. Mas a gente sempre quer aquilo que nos pertence. E precisa colocar essa bagunça da cabeça em ordem. E porquê não, fazer o que você mais gosta?<br />
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Es<br />
cre<br />
ver.<br />
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Jéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-36345541980956735502015-01-27T22:40:00.002-03:002015-01-27T22:40:59.508-03:00Meio porcento de vidaUm tilintar de chaves. Longe, distante. Eu estava em casa, sozinho. Não sabia exatamente porquê, mas não tinha ligado a TV ao entrar em casa. Nem me lembrava direito como tinha parado ali. Sentado no sofá, acendi um cigarro. Ouvia apenas o silêncio, quando o barulho de chaves surgiu.<br />
<br />
Não era contínuo, o tilintar. Ouvi entre uma tragada e outra, quase não prestei atenção. Vinha de longe, talvez do terceiro andar. Apaguei o cigarro. De repente, me senti alerta, como um vigia noturno. Tentava ao máximo expandir minha audição - se é que era possível fazer uma coisa dessas - e procurar, de onde vinham aquelas chaves.<br />
<br />
Até que o silêncio tomou conta de tudo, como um véu cobrindo os móveis, as paredes, o chão, eu. Fiquei ali, sentado, preso no silêncio, sem respirar. Devo ter ficado pelo menos cinco minutos assim. "O que diabos você está fazendo?", pensei, quase em voz alta. Quando mudei o olhar da TV para a porta, aconteceu de novo. O barulho de chaves.<br />
<br />
Agora estava mais perto. E mais frequente. Era como se uma criança muito pequena estivesse brincando com elas, mexendo-as suavemente com aquela curiosidade ímpar que só encontramos em pessoas com meio porcento de vida. Mas o barulho se aproximava. E começava a espalhar-se, a cobrir o véu do silêncio, a tomar conta de mim. Mais forte, mais intenso, mais próximo.<br />
<br />
Pensei em ligar a televisão, em abrir as torneiras, em ligar o som e colocar o celular no viva-voz. Mas eu precisava ser corajoso. Então, deixei que o barulho se aproximasse ao máximo. Até chegar a minha porta. Então, parou. O próximo som que ricocheteou todo meu apartamento parcialmente vazio, foi o da campainha.<br />
<br />
Levantei e abri a porta. Era ela, do terceiro andar. Usava um vestido amarelo, meio desbotado. Esticou o braço com a chave na ponta dos dedos.<br />
- Você esqueceu ontem. Encontrei aqui no chão, jogadas no tapete.<br />
Sua voz era fria e sem sentimento algum. Como pode uma pessoa viver por tanto tempo com você, dividindo todas as contas, ser sua melhor amiga, mulher, tudo o que você sempre sonhou, e passar a tratar você assim, como se fosse um desconhecido? Não, era pior do que um desconhecido. Era como se fosse uma fala no interfone, uma mensagem no viva-voz, apenas um recado frio e mecânico. "Pega as chaves, por favor".<br />
- Obrigado - respondi, inaudível, e ela não parou para perguntar o que eu tinha dito. Rapidamente afastou-se, subindo as escadas de volta ao seu apartamento tão distante e ao mesmo tempo tão perto.<br />
<br />
Fechei a porta atrás de mim e finalmente, pude tirar os sapatos, a camiseta do trabalho, ligar a TV e pensar no jantar.Jéssica Figueiredohttp://www.blogger.com/profile/13462613885224239561noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-55614100924532403072014-11-06T00:36:00.000-03:002014-11-22T01:19:00.388-03:00SinergiaLuzes coloridas e raios de som chicoteavam o ar no galpão aberto. O show era caótico e tinha muita gente ao seu redor. Ela saiu da multidão que se esmagava perto do palco para fumar um cigarro. Encostada na parede, longe de todos que conhecia, ela mexia no celular e via pessoas desconhecidas. Pra ela, o show já havia terminado.<br />
<br />
No momento que ela dava sua primeira tragada no cigarro, ele chegou. Acompanhado de mais dois amigos, também direcionou seu olhar para o palco, e assim ficou por alguns instantes. Apreciava a apresentação, mas sem muito alvoroço. Pra ele, também, o show já tinha acabado.<br />
<br />
Conversando com os amigos, começou a perceber as pessoas ao seu redor. Foi quando a viu. Ali, encostada na parede, fumando, com o celular na mão. Já havia visto tantas vezes assim. Mas nunca com o cigarro. Ele sabia que podia se aproximar, afinal, eram mestre e aluna. Não havia nada de mal em conversar com uma de suas alunas, certo?<br />
<br />
Bateu suavemente no ombro de um de seus amigos e avisou que ia se ausentar por um momento. Como se guiado por um impulso, deu o primeiro passo em direção à ela. Caminhava devagar, hesitante, como se estivesse se preparando para o momento de se aproximar dela. Passou por algumas pessoas no meio do caminho, cumprimentou outras. Chegou.<br />
<br />
- Oi.<br />
Ela levantou a cabeça da tela pequena do celular.<br />
- Olá professor, tudo bem?<br />
- Tudo ótimo. E com você?<br />
- Tudo bem.<br />
Sorrisos de plástico foram trocados. Mas o olhar falou sozinho. Ela guardou o celular no bolso e deu uma tragada no cigarro. Olhou para ele, no fundo de seus olhos, como se pudesse conversar sem dizer coisa alguma.<br />
- Quer um? - perguntou, despretensiosa, suavemente destoando a tensão que de repente compô-se entre eles.<br />
- Sim. - respondeu. Pegou um cigarro do maço que ela entregou a ele, acendeu e deu uma tragada longa. Soltou a fumaça. Voltou a olhar pra ela. Existia uma energia diferente entre eles, algo difícil até mesmo de colocar em palavras.<br />
- Não está assistindo o show? - ele perguntou, mais como uma forma de puxar um assunto convencional, do que por curiosidade ou qualquer coisa que o valha.<br />
Ah, é. De repente, ela se deu conta que estava ali, com ele, segurando o cigarro - que já se apagava entre os dedos. Tinha ido para outra dimensão, para outro lugar, enquanto encarava-o profundamente.<br />
- Tá quase terminando - disse ela. Sorriu, besta.<br />
Ele começou a falar sobre o show e sobre a banda, mas ela não escuta. Apenas o encara, olha diretamente em seus olhos, como se quisesse desvendar o segredo dele.<br />
- Quer sair daqui? - ela pergunta, num tom de voz quase inaudível. Ele escuta. Também como se estivesse hipnotizado, dá mais uma tragada no cigarro e olha para ela com o rosto iluminado de contentamento.<br />
Ele balança a cabeça, afirmando.<br />
Ela joga o cigarro no chão e pisa em cima com o tênis.<br />
Ele dá uma última tragada e joga o cigarro longe.<br />
Juntos, sem dar as mãos, eles se saem, caminhando em sintonia. Quem vê, não percebe, mas há algo entre eles. Algo inexplicável. Quase como uma sinergia.<br />
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Faz tempo que não venho aqui. Revendo minhas publicações antigas, percebi quantas vezes disse "adeus" e quantas vezes senti saudade desse lugar. Espero que um dia eu volte, com a frequência de antes. O tempo dirá. "Trust in the wisdom of the universe".Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-19542279326671689512012-06-11T16:46:00.003-03:002014-11-06T00:38:11.912-03:00Romance antigo<br />
Havia um deque largo e longo, suportando de uma ponta a outra o mar que insistia em tentar derrubar as toras de madeira fincadas na areia. Havia ondas, pequenas, que hora e outra soltavam espumas brilhantes, quase colocando formas estranhas para fora d’água. Havia aquela fileira de barracas recheadas de frutas de todos os tipos, havia lojinhas de suvenirs, artesanatos, brechós e livrarias esperando uma merecida visita mais demorada.<br />
<br />
Havia bancos de madeira a cada cinquenta metros, virados para o mar, onde os casais se abraçavam. Era fim de tarde, apesar de ser muito tarde no meu relógio e o sol ainda causticava os rostos rosados dos homens e mulheres que por ali não paravam de ir de um lado para o outro. Ali, os séculos não passavam, o mundo não girava: como se o lugar, as pessoas, quem sabe até o clima frio e seco estivesse preso nos anos 50. E eu também estava lá.<br />
<br />
E haviam as pessoas. Sofisticadas, ricas, bem vestidas. Mas também pobres e maltrapilhos. Casacos de pele e grandes cartolas caminhavam vagarosamente pelo deque, ignorando os muitos idosos sentados no chão, implorando por comida ou dinheiro. Vez ou outra, crianças corriam entre as pessoas, e um senhor bem vestido, de monóculo e relógio de bolso, gritava da porta da sua lojinha: “Pega ladrão! Pega ladrão!”.<br />
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O cenário era agitado, mas as situações eram cotidianas: todos os dias, aquelas mesmas pessoas passeavam pelo deque ostentando suas riquezas, os mesmos velhos pediam dinheiro, as mesmas crianças corriam e os mesmos senhores chamavam a segurança do local para denunciar um furto. E todos os dias, casais se encontravam nos bancos de madeira, assistindo o sol se deitar no mar.<br />
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Assim, lá estava ela, sentada. Vestia um casaco e uma touca de lã cobria suas orelhas. Tinha as pernas sentadas por cima das mãos e balançava os pés como uma criança brincando no balanço. Lá estava ela, esperando. Era tão linda.<br />
<br />
Caminhei pelo deque, esbarrando nas pessoas, observando-as, procurando me distrair. Mas ela me hipnotizava. Mulheres lindas passavam por mim, olhavam para mim e sorriam timidamente. Eu só conseguia responder com um aceno de cabeça e seguir em frente, ao encontro dela.<br />
<br />
Cheguei mais perto e toquei-a no ombro, num gesto que foi correspondido automaticamente, quando ela virou e sorriu para mim. O sorriso dela brilhava. Ela levantou-se, deu a volta no banco e parou à altura dos meus olhos. Sem dizer palavra, me abraçou, me desligando por completo da multidão transeunte atrás de nós, trazendo toda paz e felicidade de volta.<br />
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Há tempos que não escrevia algo assim. Precisava me recuperar, ver se minha veia literária e descritiva ainda funcionava comigo. Pelo jeito sim, mas ainda há alguma coisa faltando - um mote principal pra cada história. Descrições e adjetivos já não fazem mais tanto sentido, mas ainda é um bom (re)começo.<br />
<br />Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-71902353999715889492011-10-18T13:02:00.001-03:002011-10-20T01:39:57.270-03:00Dezes(sete) anos de manhãs com sono<div class="MsoNoSpacing">Os primeiros raios da manhã atravessavam as janelas de vidro pintadas de vermelho e verde, refletindo formas irregulares sobre a mesa de madeira lotada de papéis rabiscados. Entre canetas e copos de café, cores e formas irregulares se espalhavam por cima da mesa, terminando por incidir sobre o cabelo dourado da menina. Ela tinha dezessete anos de noites em claro e sete de manhãs com sono. <o:p></o:p></div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing">O quarto era só silêncio e suspiros. Deitada sobre o braço em cima da mesa, ainda segurando a caneca de café, ela adormecia entre pequenos montes de papéis com contos inacabados, rabiscos de desenhos incompletos, frases e palavras sem nexo. Por mais profundo que parecesse seu sono, não duraria muito – tanto que, logo quando sentiu o calor do sol na cabeça, acordou num susto. Entreabrindo os olhos e tentando não se mexer (para não perder o filete de sono), ela levantou da cadeira de madeira e caiu por cima das almofadas do sofá cama. <o:p></o:p></div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing">Tentava, desesperadamente, adormecer de uma vez por todas – por duas, cinco horas ininterruptas. Nunca conseguia. Estava nessa rotina dormente há pelo menos sete anos, desde que... Não gostava nem de se lembrar. As luzes vermelhas piscando voltavam a sua mente com força, e ela tentou desviar o pensamento colocando um travesseiro no rosto – empatando o sol. <o:p></o:p></div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing">Não adiantou. Como se vivesse o roteiro da mesma peça todos os dias, automaticamente e sem nenhuma expressão, ela se levantou e foi à cozinha, preparar um café. Voltou com a caneca soltando vapor, e mais uma vez se sentou à mesa. De frente para a máquina de escrever, ela fitava a manhã nascer lá fora, através das suas janelas de vidro verde e vermelho. Soltou um suspiro profundo, e na tentativa de tentar organizar (pela enésima vez) seus pensamentos, bebeu um gole de café, deixou a caneca de lado e pôs-se a digitar na máquina de escrever.<o:p></o:p></div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing">Dialogava o tempo inteiro com a página em branco. Escrevia uma linha, não gostava. Tirava o papel e amassava. Então escrevia outra, gostava e continuava. Mas no segundo parágrafo, desistia. Pegava o papel e tentava escrever a mão. Não funcionava. Não sabia por qual caminho seguir. Era difícil se decidir. Sentia tudo ao mesmo tempo, e imaginava fotografias, falas e diálogos soltos, sem nenhuma conexão um com o outro. Perdendo a paciência, se levantou da mesa e pegou sua caneca. Decidiu colocar música para tocar. Gostava de ouvir música clássica pela manhã – Bach ou Beethoven. Seu avô, falecido, dizia que música clássica ajudava os neurônios a trabalharem melhor. “Em sincronia”, dizia ele. Ela acreditava, e colecionava CDs de coletâneas com os maestros mais famosos do mundo.</div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing">Deixou que a Nona Sinfonia fosse quebrando o silêncio do quarto em pequenos pedacinhos de orquestra, adicionando instrumentos aqui e ali, aos poucos aumentando de volume e grandiosidade. Nessa parte, ela não conseguia evitar o sorriso, e dava ritmo a seu passo por dentro da pequena casa. Agora a manhã já ia acordada, assim como seus vizinhos, que começavam a varrer os pequenos jardins, tapetes e calçadas em frente ao dela. Decidiu pôr um vestido e sair de casa. Do lado de fora, observou as seis casinhas coladas uma na outra, emparelhadas, diferentes apenas pelas cores: <b>azul turquesa, azul clara, rosa forte, lilás e roxo.</b> Nas duas primeiras, um senhor de idade e uma senhora de vestido florido bem usado varriam a frente das suas respectivas casas. <o:p></o:p></div><div class="MsoNoSpacing"><br />
</div><div class="MsoNoSpacing">Ela deu bom dia ao casal de melhor idade, e encostada na lateral da porta, terminou seu café. De repente, olhando para a divisão da sua porta - da sua casa - para a vizinhança, decidiu que não mais iria tentar dormir aquela manhã. Exatamente quando ela entrou de volta em casa, a Nona Sinfonia tinha seu momento mais clássico, em que um coral feminino toma a vez dos violinos. Assim, com um sorriso no rosto provocado pela música, ela decidiu finalmente se organizar. <br />
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Começou abrindo todas as janelas, deixando o apartamento arejado. Então foi direto à mesa de madeira, pegando de bolo todos os papéis que saberia que não mais iria usar - estavam ali apenas fazendo volume desnecessário. Enquanto arrumava suas coisas, o disco na vitrola tocava, atraindo olhares até mesmo dos vizinhos. "A Lisa acordou disposta hoje, ein, Harold?" comentou a senhora da casa azul clara. "É verdade. Tá até com as janelas todas abertas!" concordou o senhor da casa azul turquesa.<br />
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Lá fora, a manhã já ia disposta, e pela primeira vez nos seus dezessete anos de insônia, Lisa passava uma manhã sem sono. </div>Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-15923731435220492812011-10-16T01:42:00.001-03:002011-10-16T01:43:17.188-03:00Sócia do clube dos anti-sociaisPreciso te dizer que eu sou anti-social. Não gosto quando recebo visitas em casa. Não gosto quando alguém da família chega para "tomar um café" e fica até a hora do jantar/almoço. Aliás, essa situação eu tento evitar ao máximo na minha vida. É uma das piores de todas, pra mim: receber familiares em casa e ter de aguentar todo aquele lero-lero porre de família, porque Fulaninho fez isso e não deveria ter feito, porque Sicraninho está aprendendo a andar de bicicleta, porque Doninha está grávida de novo do terceiro filho... Por aí vai.<br />
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Papos assim nunca vão funcionar comigo, até quando é família de outra pessoa e algumas histórias parecem até ser legais. Mas não adianta: logo eu perco a paciência e tento desviar, de todas as formas, o assunto para algo que realmente interesse. Claro que assuntos assim não aparecem o tempo inteiro. E pior: eles nunca surgem naquela hora certa, exatamente quando você dá de cara com alguém que não tem o quê conversar com você. Nessas horas, o "assunto interessante" sai correndo longe e te deixa lá, vazio e sem esperanças, ansiando para que aquele momento passe.<br />
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Um dos lugares-comum que mais acontece esse tipo de impasse é em paradas de ônibus. Lá está você, ouvindo música no volume máximo, com seus novíssimos fones de ouvido, quando de repente chega aquela pessoa que você conhece, mas não conversa. É teu colega, estudou contigo em algum cursinho ou escola da vida, e de repente surge na tua frente com o maior sorrisão, pronto pra te cumprimentar como se vocês fossem amigos de longa data. Cara, isso não funciona. Ele pode até te abraçar com maior fervor, mas depois do "E aí, com você está?", a situação só tende a piorar.<br />
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Aqui, o lema de "na dúvida, fale sobre o tempo" do Takeda não funciona. Porque esse é aquele tipo de situação que você mexe nos bolsos, troca o peso das pernas, olha para cima, para baixo, para todos as laterais (numa forma desesperada de evitar o contato olho-a-olho com o indesejável ser ao seu lado), e solta aquele sorrisinho: "então...", visivelmente mostrando o quanto você quer dar o fora dali e seguir sua vida. São momentos que te atrasam, quase dando um imprevisível e incômodo Pause no ritmo de vida que você estava levando. A vida para do que estava fazendo antes ou pretendia fazer naquele instante para ser interrompida por uns dez, vinte (oh, meu deus) quarenta minutos por alguém que não tem nada para falar com você.<br />
<br />
Porque, na boa, convenhamos, falta de assunto no meio de uma conversa (ainda mais dois a dois) é uma das piores situações já criadas pela humanidade. E aí o único jeito é ficar preso as piores tentativas de engatar numa conversa, ou se perder nas esparsas amenidades tipo "como vai a faculdade?" "trabalhando, já?" "como vai o namoro?"... Daí para baixo.<br />
<br />
Deste modo, eu me torno sócia do clube dos anti-sociais. Porque, sério mesmo, entre encontrar uma "persona non grata" e ouvir música sozinha na parada de ônibus, eu prefiro muito mais aumentar o volume e deixar que o John Lennon exploda meus tímpanos (com o Walls & Bridges, de preferência). Aqui, o verdadeiro lema é do mestre Bukowski: "Não é que eu odeie as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto".Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-63160427404797479182011-09-09T11:30:00.001-03:002011-10-08T21:16:23.745-03:00Do vício por músicaSaiba você que, em alguma parte do mundo, haverá alguém ouvindo algo que não é desse século, ou lançado semana passada. Saiba você que, em qualquer lugar do mundo, haverá alguém ouvindo algo muito antigo com a mesma eferverscência que você está ouvindo aquela banda que lançou o primeiro disco ontem. Saiba que, em qualquer lugar que você for, vai encontrar alguém que deteste seu próprio século - em matéria de música - e, por isso, só escuta o som do tempo que vivia-se nas ruas cheirando pó, tomando LSD e indo a shows do Velvet Underground. Saiba que, em qualquer lugar do mundo, haverá alguém que irá provar por A + B que aquela sua nova banda preferida é, na verdade, uma merda. E ela vai te convencer, mas isso não vai te fazer parar de ouvir a banda. Porque, quer queira quer não, música é sentimento. E se ela te pega, por pior que seja (ou por mais que te convençam que ela não presta), não haverá saída. Porque gosto é gosto, e, algumas vezes, eles não são feitos para discutir.<br />
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Saiba você também que muitas discussões sobre música vão acabar com "Isso é uma merda" contra "Isso é muito bom". Mas isso, é claro, vai depender de banda, de disco e de época. <br />
<br />
Saiba que, em alguma parte do mundo, haverá alguém ouvindo nada - ou ouvindo o silêncio, apenas. Saiba também que há uma diferença entre ouvir o silêncio e não ouvir nada: a falta de música não significa que você não a está ouvindo. Afinal, mesmo que você escolha ficar no silêncio, ainda haverá música dentro de você, tocando sem parar, como uma vitrola que nunca desliga. A diferença é que, na vida, você pode desligar o rádio. Já na cabeça, não é tão fácil assim se desligar da música.<br />
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Saiba que, não importa se no Brasil ou na Europa, Estados Unidos ou Japão, haverá alguém sempre com a cabeça cheia demais, pensativa demais, viciada demais para ouvir com cuidado, e absorver música. Ou simplesmente ocupadas demais para despertar o mesmo interesse que o seu sobre música. Entenda que essas pessoas estão interessadas em outras coisas - e que o mundo é maior do que a discografia do Bob Dylan que você acabou de baixar tão facilmente. <br />
<br />
Saiba que, não importa que álbum você escute, se ele foi lançado em 69 ou ano passado. O que importa é a energia, a vibe que você sente ao ouvi-lo. Saiba que música não precisa ter época. Música precisa ter feeling. E se você sentiu aquilo enquanto ouvia aquelas guitarras rasgadas, ou aquilo outro quando escutou aqueles pianos delicados, aconteceu alguma coisa. E, quando você menos espera, está lá, viciado em música.<br />
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Música que importa, que faz sentido. Que importa mais do que qualquer coisa nesse mundo.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-71800041191720934562011-09-04T23:02:00.003-03:002011-09-04T23:08:05.337-03:00Carência, amores e memória afetivaPorque a gente tem que ser tão carente? Porque a gente tem que depender tanto dos outros? E não só dos outros, mas do tratamento que os outros dão para a gente. Porque a gente tem que ser tão dependente de beijo, de abraço, de carinho, de cafuné, de dormir agarradinho? Porque a gente simplesmente não encara isso com a maior normalidade, como se não fosse nada demais, só o mesmo de todos os dias. Porque nos falamos com nossos pais, damos bom dia para o porteiro e obrigado ao motorista do ônibus na maior naturalidade, e quando alguém te dar uma gota de carinho qualquer, nós levamos a sério? Nós ficamos feito loucos, atordoados, pensando naquela pessoa, nas ações dela, nos benefícios que ela pode trazer pra nós... Sem falar nas horas perdidas imaginando os dois juntos, a troca de carícias, as lembranças das conversas, dos toques, dos simples gestos... Porque isso acontece? O que faz isso acontecer? E porque temos que levar tão a sério? Porque, afinal de contas, temos que depender tanto desse tratamento?<br />
<br />
Sei lá se essa porra se chama amor. Pra mim é mais carência. Amor é algo mais profundo, mais da alma. Por exemplo: fica fácil dizer "Eu AMO essa banda", porque, de um modo ou de outro - dependendo do seu estágio de conhecimento dela, ou da frequência que a escuta - você realmente ama aquela banda, aquele som, aquela música ou aquele disco. Porque ela (a banda) já vem te acompanhando há algum tempo na vida, te ajuda a passar por situações ruins e boas, e quando você escuta as músicas de tal banda, sempre atiça a memória afetiva (e vem aquelas lembranças dos momentos com aquela música e tudo mais). Mas, o que acontece no nosso cérebro quando a gente simplesmente sente falta de dormir de conchinha com alguém? De abraçar e beijar alguém que a gente gosta? De conversar com alguém, mesmo que esse alguém seja de longe? Sei lá que porra é essa, mas só sei que eu tô sentindo, e até demais.<br />
<br />
É uma merda gostar. Não sei qual é o pior: admitir que gosta ou ficar sentindo falta. Talvez, quando a gente admite que gosta, nosso cérebro entenda como "coisa séria", e comece a lhe dar altas restrições. Tipo: você não pode sair no sábado a noite, ficar bêbado e pegar duas, três gurias na mesma noite porque você já DISSE A ELA que gostava dela. Daí seu cérebro meio que faz uma aposta acirrada com as partes sexuais do seu corpo, criando aquele ~climão manero~ entre a dúvida se faz isso descrito acima ou fica em casa, passando a madrugada conversando com a guria no MSN. É, talvez o compromisso que você assume consigo mesmo (em dizer pra garota que está apaixonado por ela) seja pior do que sentir falta.<br />
<br />
Ou não. Sentir falta também é uma merda, porque está acima dessas decisões que você combina com seu cérebro (ou com a garota). Porque você pode até pegar cinco numa noite só, chegar em casa sujo e ainda bêbado, cair na cama e dormir até nunca mais... Mas quando você acorda no outro dia, será aquele carinho na cabeça, aquele abraço apertado, até aquele entrelaçar de mãos que parece não querer soltar nunca, serão essas coisas que vão fazer falta. E isso, sim, é pior do que qualquer coisa - até mesmo do que o compromisso com alguém que está há 1.200km distante de você.<br />
<br />
Aí eu me pergunto, novamente: porque a gente é tão dependente disso tudo? Porque a gente simplesmente não encara tudo na maior naturalidade, e deixa a vida seguir? Bem, talvez a resposta pra isso tudo seja: porque simplesmente essas coisas não acontecem com a gente todos os dias. Porque, se acontecessem, perderiam a graça - e aí deixariam de ser especiais. E são esses momentos especiais que formam nossa personalidade, caráter. São pequenas coisas assim que marcam nossas vidas, e as fazem valer à pena.<br />
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Para o bem ou para o mal, carência ou amor, bandas ou gurias, o que importa é que quando uma coisa nova acontece na vida da gente, mesmo que a gente não tenha chance de alcançá-la de primeira, mesmo que tudo seja distante e difícil demais, no final vai valer mais a pena do que o que a gente esperava. Afinal, gostando ou amando, é assim que a gente vai crescendo, vivendo e aprendendo. E assim será a vida (daqui até a eternidade).Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-66510295944371598682011-07-09T12:07:00.001-03:002011-07-12T14:51:49.850-03:00Casas coloridas e ruas molhadas em noites agradáveisHá algum tempo não escrevo histórias assim, ainda mais grandes. Me desculpem.<br />
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Parecia que ia chover. O céu estava nublado, cinza, e a lua refletia através das nuvens. Ela desceu no centro da cidade e esperou no lugar marcado. Poucas pessoas passavam, olhando-a de longe, através dos vidros dos carros e dos capacetes das motos. Alguns minutos, ele chegou. Subiram uma ladeira escura, adormecida, com lojas e casas comerciais que pareciam ter levado chuva há poucos minutos. Ninguém na rua - talvez um ou dois grupos de pessoas pelas esquinas. Passaram por uma praça bem ornamentada, com bandeirinhas coloridas penduradas pelas árvores, pelos postes e telhados das casas. Dobraram à direita, numa rua cheia de casas coloridas e no mesmo formato (baixas e retangulares). As ruas molhadas, a vizinhança adormecendo, e eles entrando no grande condomínio deitado.<br />
<br />
Numa casinha amarela de teto baixo eles entraram por uma grade e lá dentro ela descobriu que aquelas casinhas reservavam condomínios inteiros, como se fossem grandes prédios deitados. Caminharam por um longo corredor e subiram dois lances de escadas. Passaram por grades fechadas de luzes acesas nos apartamentos dos corredores, até chegarem ao último da fila. Um degrau dividia o chão da entrada do apartamento e ela entrou primeiro. Sentou-se na cadeira do computador, enquanto ele preparava a bebida. Serviu-a num copo pequeno e enquanto preparava um prato com batatas em conserva, limões e pepinos cortados em pedaços, ela o observava. Ele deve saber tanto sobre si mesmo, morando sozinho por tanto tempo, pensou ela. Tomou um gole do líquido transparente, forte, bom. Ele serviu o prato na mesa onde ficava o computador e pôs um disco para tocar. Ela olhou ao redor da pequena sala, que também servia de cozinha. Uma grande estante de livros tomava o lugar da parede que dividia a sala do quarto, um sofá estava ao lado da mesa de trabalho, onde ficava o computador. Ele sentou-se no sofá. Conversavam sobre literatura, ele mostrava suas relíquias, livros antigos e coleções clássicas de histórias em quadrinho. Nomeavam escritores, desenhistas, quadrinistas, poetas, e grandes figuras da geração beat.<br />
<br />
Nem mesmo quando ficavam em silêncio era desconfortável. Não sabia se era a bebida, mas ela sentia-se mais em casa, na casa dele, do que na própria casa. O telefone dele tocou, e em pouco tempo um garoto nerd de camiseta branca entrava na sala-cozinha. Ela cumprimentou-o, ele serviu mais uma dose da bebida para o garoto nerd de camiseta branca, e eles conversavam - agora, sobre música. Enquanto ela bebericava ainda seu primeiro copo, ele já ia no segundo. O nerd de camiseta branca rejeitou o líquido transparente, e às dez horas e alguma coisa, os três deixaram a estante de livros, os pepinos, as batatas, os discos, as grades e os prédios deitados.<br />
<br />
Ao dobrarem a esquina de uma rua asfaltada, subiram a ladeira que formava a praça principal do centro histórico da cidade. Casas coloridas e não molhadas estruturavam-se nas laterais da praça, e vários rostos, sons e carros movimentavam o lugar. Música, conversas, risos e sons de vômitos perpassavam por eles enquanto subiam à esquina e encontravam um casarão rosa com vários grupos de pessoas na frente. Pessoas, garrafas de vidro e plástico, copos grandes e pequenos saiam e entravam da casa rosa, que servia de casa de shows e bar. Os três - ele, ela e o nerd de camiseta branca - se sentaram numa mesa de plástico amarelo e conversas estranhas, idas ao banheiro e copos com cerveja aconteceram naquela mesa, naquele lugar, por algumas horas.<br />
<br />
A noite acordou, o céu estava limpo e a lua incandescia os postes de luzes amarelas. Os três conversavam, a maior parte do tempo, sobre música e sexo. Era interessante conversar sobre experiências masculinas, pensou ela. Sempre é, porque você pode aprender muito com eles. Tanto que tudo o que você sabe veio disso. Os ponteiros cercavam os números nos relógios e o tempo escoava pelas cervejas quentes derramadas e piolas de cigarros jogadas no chão, carregadas pelo vento até o fim das ruas. Ela queria muito ir ao banheiro. Exatamente na hora que uma garota estava saindo da casa rosa de esquina, ela entrou. Mijou por muito tempo, saiu, lavou as mãos e caminhou de volta à lateral da casa, onde estavam seus amigos.<br />
<br />
Não sabia por qual motivo, mas estava com a frase "Afinal, somos amigos" na cabeça desde que os convidara para curtir uma noite juntos. Há algum tempo não faziam isso - complicações não permitiam que os três se encontrassem e ficassem juntos, numa roda de conversa natural, normal - coisas que não vinham ao caso naquele momento, nem precisavam ser relembradas. Não chovia e não fazia calor - estava um clima agradável na noite e entre eles e naquela parte histórica do centro da cidade, até mesmo nas bebidas. Somos amigos e estamos curtindo uma noite agradabilíssima, pensou ela. Apenas isso.<br />
<br />
As horas cresciam e a noite começava a ficar com sono, e quando as três horas da manhã chegaram, eles decidiram voltar para casa. O nerd de camiseta branca foi no caminho contrário, enquanto eles iam pelo mesmo caminho que chegaram. Não davam as mãos, apenas conversavam - sobre a noite, o centro, as prostitutas, os bordéis - e música, bebidas, literatura, até chegarem novamente ao apartamento dele.<br />
<br />
Como as coisas devem ser, sem nenhum beijo roubado ou surpresas, eles entraram no quarto. Ela não viu nada da mobília, apenas deitou na cama e deixou que ele tirasse sua roupa.<br />
<br />
<br />
<br />
Amanhecia e o sol fraco das seis da manhã entrava pela cortina da janela acima da cama. Ela levantou-se, foi ao banheiro e mijou por quase dez minutos. Ele acordou e ficou olhando-a nua caminhar pelo quarto. Confortável, era a palavra que vinha à mente dela. Não tinha vergonha de ficar assim na frente dele - esse sentimento, na verdade, ela já o perdera há algum tempo. Mas especialmente naquele apartamento ela sentia como se estivesse no próprio quarto, com todas as suas coisas - coisas que faziam parte dela, não só eram dela. Ela sumiu da vista dele quando dobrou na esquina da estante de livros. Completamente nua, ela lia os nomes e títulos dos livros no último andar da estante, quando ele abraçou-a forte pelas costas e deu-lhe um beijo na nuca.<br />
- Quer café?<br />
Ela assentiu.<br />
Colocou água num bule antigo, enferrujado, que em poucos minutos já estava apitando. O café estava forte e ela sentou no sofá, enquanto ele desaparecia atrás da estante. Voltou carregando um violão marrom, de cordas de aço, e deixou o instrumento ao lado dela, no sofá. Serviu o café em duas xícaras e entregou-lhe uma. Sentou, tomou um gole, colocou a caneca na mesa e pegou o violão.<br />
<br />
Ela pensou com quantas meninas ele fez aquilo. Pensou em quantas devem ter passado pela vida dele, pela cama dele, suado sobre o corpo dele. Então pensou que aquilo realmente não importava, e percebeu que para ele, todo momento é um momento. Percebeu que, para ele, toda mulher é diferente e todo momento passado com cada uma delas é único, do jeito que deve ser. Cada pessoa tem sua especialidade, e aquela era a dela - sentir-se confortavelmente nua tomando café e vendo-o dedilhar no violão uma bonita e delicada melodia. <br />
<br />
O calor do café esquentava seu rosto, e a vizinhança começava a acordar. O sol entrava pelas janelas, através das cortinas. Eles continuaram ali, sentados, nus, um de frente para o outro, bebericando café e entornando músicas antigas num violão antiquado.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-67337956551127074522011-06-22T16:50:00.000-03:002011-06-22T16:50:09.967-03:00Pelas esquinas- Você vai mesmo? Amanhã?<br />
- Sim.<br />
Pensativa, ela abaixou a cabeça.<br />
- Engraçado - disse - Quando falei contigo pela primeira vez, você tinha planos pra ir embora. E quando finalmente te conheço pessoalmente, de novo você está indo. Parece que eu só te encontro pelas esquinas.<br />
Ele soltou um sorriso abafado.<br />
- Pelas esquinas? - repetiu ele<br />
- É. Despedindo-se sempre. Sabe quando você está de saída e volta de repente, como se tivesse esquecido alguma coisa?<br />
Ele balançou a cabeça. - Sei.<br />
- Pois é. É quase como se, sempre que você está para sair, de repente eu apareço. E te faço ficar por mais tempo do que você pretendia.<br />
- É, você estraga meus planos de ir embora, de me afastar. Você estraga até meu plano de me suicidar.<br />
- Pois é. Eu te prendo ao mundo que você vive. E agora te prendo até à vida.<br />
Os dois riram, um com o outro.<br />
- Só não sei se isso é bom, ou ruim - ela disse, por fim.<br />
- Ainda vamos ter tempo de descobrir - ele respondeu.<br />
- Quer dizer que mudou de ideia quanto ao suicídio?<br />
- Vamos ter tempo de descobrir - e riu, abraçando-a.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-59635330293178376962011-06-07T00:43:00.001-03:002011-06-07T00:43:36.648-03:00Saudade<blockquote> </blockquote><blockquote>Muita saudade disso aqui. Como era bom postar tudo que vinha do coração. Como era bom criar cenas de romance açucarado, em lugares inexistentes - ou apenas em qualquer lugar que não fosse essa cidade. Ando tão ocupada, dando tanta importância à um futuro jornalístico tão incerto. Pelo menos aqui eu tinha certeza que não ganharia nada. Agora parece que há algo sinalizando dentro de mim que, o que eu escrevo agora, vai me render algum emprego no futuro. Grande enganação. </blockquote><blockquote>Sinto tanta falta de escrever apenas por paixão, por amar o romance, por ser sensível e sentimental como eu sempre fui - e criar histórias que dissecassem todo esse meu romantismo inocente. Ando muito vazia, muito seca. E isso me tira toda a criatividade para criar um daqueles contos bonitos que eram tão bem vistos aqui. Eu gostava tanto deles. Ainda gosto. </blockquote><blockquote> Tanta saudade de tudo que acontecia por aqui. Saudade de um tempo que eu queria que voltasse. Mas não sei o que fazer pra ele acontecer de novo. Dei uma pausa com intuito de escrever um livro, e acabei me engajando em outros projetos, outras idéias. Mudei minha forma de expressão, encontrei um modelo e me moldei a ele, de tal forma que não sei como "desmoldar". </blockquote><blockquote>E agora só resta essa saudade dos bons tempos de sensibilidade que eu tinha quando escrevia aqui. Espero que, sei lá, se por ventura eu voltar algum dia, eu possa recuperar esse sentimento que eu tinha. Ou, pelo menos, que eu ainda consiga mostrar, através de contos e histórias, o que está se passando aqui dentro.</blockquote><blockquote>Saudade demais disso aqui.</blockquote>Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-23594864352228129712011-04-19T12:33:00.000-03:002011-04-19T12:33:50.865-03:00Um adeus definitivoComo eu já me despedi aqui milhares de vezes, dessa vez serão só informes. Porque, por mais que eu tente, não consigo ser a mesma que eu era quando esse blog começou. Não consigo mais escrever do jeito que eu escrevia - devido tanto aos fatos da vida, que mudam uma pessoa sem que você nem perceba direito, quanto à literatura, que ando lendo, muito diferente da que eu lia quando comecei. Não consigo mais ser do jeito que eu era. Afinal de contas, muita coisa caiu na chatice do cotidiano, e agora qualquer coisa ganha um tom meio dia-a-dia, mesmo eu ainda tentando arduamente fugir dele. Também coloquei na cabeça que quero terminar um romance. Então, o meu tempo, vontade, espaço, forças e amor por esse lugar minguou-se, e é tentativa falha minha tentar voltar. Preciso dizer adeus.<br />
<br />
Então, adeus.<br />
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(Quem ainda tiver interesse sobre o que eu escrevo, visitem:<br />
http://www.atividadefm.wordpress.com<br />
http://umcontoumamusica.blogspot.com)Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-74658941474114083012011-01-22T19:13:00.002-03:002011-01-22T19:13:57.225-03:00Uma pequena descrição<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:TrackMoves/> <w:TrackFormatting/> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:DoNotPromoteQF/> <w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> <w:SplitPgBreakAndParaMark/> <w:DontVertAlignCellWithSp/> <w:DontBreakConstrainedForcedTables/> <w:DontVertAlignInTxbx/> <w:Word11KerningPairs/> <w:CachedColBalance/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathPr> <m:mathFont m:val="Cambria Math"/> <m:brkBin m:val="before"/> <m:brkBinSub m:val="--"/> <m:smallFrac m:val="off"/> <m:dispDef/> <m:lMargin m:val="0"/> <m:rMargin m:val="0"/> <m:defJc m:val="centerGroup"/> <m:wrapIndent m:val="1440"/> <m:intLim m:val="subSup"/> <m:naryLim m:val="undOvr"/> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
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<blockquote><div class="MsoNormal"><span style="font-family: "Tahoma","sans-serif"; font-size: 10pt;">Anoitecia num prédio antigo perto do subúrbio do Rio de Janeiro. Por entre as poucas árvores, corria um vento frio, que arrepiava o resto de cabelo dos velhos e as pernas descoloridas das prostitutas. O ar levava para longe o cheiro de sarjeta, de perfume barato das casas com iluminação chamativa, e carregava o som dos muitos gemidos, beijos, delírios e declarações de amor ao desejo fulgurante. O vento passeava pelo subúrbio sujo e cinza - e entrava pelas janelas de alguns flats que insistiam em ser ocupados por pessoas que não tinham outro lugar melhor para ir. E entre eles, havia uma moça que queria acreditar num amor impossível.</span></div></blockquote>Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-40967329465120620392010-11-27T15:34:00.002-03:002010-11-27T15:37:03.869-03:00I love you<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">~ I just came back here to say that</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"> I love you. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">And that I'm never gonna <i>forget</i> you.</span></span>Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-56138340936047558582010-09-21T21:11:00.001-03:002010-09-24T15:15:26.059-03:00Beijo de fim de semana - Chave de PrataNo começo, não faz muito sentido. Não parece certo. Certo? Não, não é esse o termo. Comum. Igual a tudo que você sempre fez. Não parece certo só porque não é do seu costume que isso aconteça. Mas coisas acontecem - coisas que você não espera. E só depois que a noite passa, depois de ir embora e acordar, no outro dia - só depois de tomar banho, almoçar, voltar para casa e deitar na cama para dormir que você percebe que os resquícios ficaram para você. E eles vão te perturbar pelo resto da semana. <br />
<br />
Então, aconteceu. Por tão pouco tempo - e tão solto. Amizade colorida. Nada de paixão ardente, desejo incontrolável - nada de jogar na parede, pressionar um corpo contra o outro, essa pressa pelo sexo. Nada. Também não teve aquele amor ardente, duas almas e corpos se encontrando, em perfeita sintonia, que tanta gente comenta. Nem isso. Foi apenas um beijo. Carinhoso, gostoso, devagar. Com mão no rosto e segurando pela cintura. Suavemente, a cabeça deitada pra um lado. Só. Um beijo de fim de festa, para fechar com chave de... hmm... Bronze? Não, prata, talvez. É. Chave de Prata. E no final, telefone dado. Nem sei pra quê fui inventar de dar meu telefone.<br />
<br />
Sabe aquela vontade de que a pessoa ligue no outro dia? Não precisa ser necessariamente no outro dia - mas, sei lá, no fim de semana. Na sexta - Ei, vai fazer alguma coisa esse fim de semana? Tá afim de sair? - qualquer coisa assim. Essa esperança que vai crescendo, tomando forma. E o pensamento, que não deixa, não vai embora.<br />
<br />
E quando mistura pensamento com esperança? Você - crente, estúpida - acha que, quanto mais pensar, de algum modo, seu pensamento vai sair da sua cabeça e ir pra roda gigante do mundo e trazer aquela pessoa para você. Nem que fosse, sei lá, por uma tarde na universidade. Mais um fim de semana, com o beijo de fim de festa. Você acredita que se forçar seu pensamento por, sei lá, duas horas por dia, ela vai ligar amanhã às 19h. Ou vai ligar na sexta de noite, saber se você vai sair - Poxa, meu aniversário, vamos comemorar? Você imagina, contida, sem querer se iludir, se comprometer antes do concreto aparecer. E, mesmo assim, tenta evitar, tenta fugir. Mas é inevitável. De repente, você se pega pensando na mão no seu rosto, e você segurando a cintura...<br />
<br />
É tão estranho quando coisas assim acontecem - de repente você se põe na mão da outra pessoa, mesmo sem ela estar nem aí para você. Quem sabe se ela está ou não? Esse é o mistério pior de todos. Você procura entender cientificamente - entende que o mistério por trás de qualquer coisa, isso de não saber, ou de querer saber o que está escondido, libera hormônios no seu cérebro, fazendo você se sentir, no mínimo, com desejo sexual. (E você também lê que começa daí o negócio todo que te anda acontecendo por dentro, mas, para você, foi tão simples que nem pareceu um desejo sexual. Mas é, beijo também é sexo). Os dias passam. O fim de semana se cristaliza na sua cabeça. E cada dia que passa, você dá mais uma mão de brilho. Dá mais um beijo, repetindo, continuamente, pequenas cenas na sua cabeça. Mesmo sem saber que a possibilidade daquilo se repetir é 50-50%. Tanto tem, como não tem. E o seu lado pessimista vive dizendo que não...<br />
<br />
Mas, mesmo assim, você pensa. E acredita que a força desse pensamento vai, de algum modo, fazer-te cruzar com ela por aí. Pelas ruas do centro, pelos corredores do shopping, pelas janelas perdidas de ônibus lotados. Ou que pelo menos ela vá lembrar do seu rosto quando olhar seu nome na sua lista telefônica... E te ligar, na sexta feira - Então, vai fazer o quê? Tá afim de sair?<br />
<br />
Sim, sim. Claro que estou. Só estava esperando você me chamar.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-7812507700498412392010-07-04T23:03:00.001-03:002011-04-19T12:25:38.796-03:00Enchi o saco, adeus.O que fazer quando o enjôo bate? Quando você enjoa de algo que você costumava fazer, por muito tempo, e que gostava tanto. Então, de repente, bate aquela má vontade. Aliás, bate a não vontade - você nem tem mais estiga para entrar naquele site, falar com aquela pessoa ou fazer tal coisa. Mas, você lembra, melancólico, como antes as coisas eram diferentes. Era tão bom escrever ali, criar novos textos, novos mundos. Era tão gostoso conversar com aquela pessoa, contar tuas histórias, ouvir as dela, discutir teorias loucas, gostos, música e afins. Como isso acontece? Porque as pessoas deixam de fazer as coisas que gostam/gostavam?<br />
<br />
Enjôo. Cansaço. Passou. Fase nova, vamos lá. Será que é isso que está acontecendo comigo? Penso que seja. Afinal, minha "adolescência" acabou quando tornei-me 'adulta' e fiz dezoito anos. Não sei que nóia é essa de todo mundo achar que não está crescendo, não está mudando. É claro que estamos mudando! O tempo inteiro somos diferentes do tempo que acabou de passar. Um minuto atrás, éramos alguém, e agora somos diferentes! É claro que não podemos mudar uma pessoa por completo em apenas dois minutos - mas não é a união desses pequenos minutos "nos mudando" o tempo inteiro que, no final, nos faz mudar de atitude? Nos faz envelhecer? Nos faz tornarmos pessoas melhores ou piores? Cada minuto conta. Cada minuto muda.<br />
<br />
E eu me sinto diferente. Eu me vejo hoje diferente da garotinha de 15 anos que escrevia continhos bonitinhos, encantando os olhos adolescentes das pessoas que me liam. Tudo ali era eu, descobrindo um mundo novo, cheio de sentimento, magia e narração. Hoje eu sei que não sou mais isso tudo - porque tudo fez parte de um processo de <i>crescimento</i>. E agora, ao entrar aqui novamente, sinto que viajo no tempo e volto aos meus 15 anos. Só que sem a estiga, sem a narrativa pulsando do meu coração, sem toda aquela magia que era do começo. Tudo era muito bom, demais, lindo, maravilhoso naquela época. Só que passou.<br />
<br />
Não sei se posso dizer que cansei. Não sei se quero um dia deixar de escrever. É assim que melhor me expresso, e não sei outro modo qual eu possa mudar. Talvez o mundo me faça mudar, e eu me adapte a uma nova maneira de expressar idéias. De contar histórias. Talvez. Mas, quem garante que o passa-passa de informação vai acabar? E eu espero, com toda força do meu coração, estar no meio desse "passa-passa", passando, transmitindo, interagindo e comunicando a todas as pessoas do país em que eu estiver. Eu espero, realmente, que isso funcione e que dê certo. Porque, não tem como ser a toa que vou gastar 4 anos de universidade para no final, não ter criado nada.<br />
<br />
Isso tá muito revoltante, eu sei. Esse blog já passou do climazinho amorzinho que ele tinha antes. Agora, eu mudei. E ele vai ficar aqui, como uma boa lembrança do que eu era. Não sei se é porque meu curso está para começar - AMÉM SENHOR! - ou se posso um dia, quem sabe, voltar. Mas, não vou fazer como fiz com as minhas piores lembranças da adolescência negra, e sair apagando tudo com vergonha de mostrar. Deixa ele aqui. No "sótão", como vi em Toy Story 3. É um lugar quentinho, reservado, e especial. Para quando, a qualquer momento que eu quiser fazer uma viagem no tempo, eu vou lá. E aí, não sei se volto. Mas, se voltar, com certeza vai ser diferente.<br />
<br />
Porque, o tempo todo, estamos mudando. E eu não vou ser a rabugenta de dizer que eu também não estou diferente. <br />
<br />
Por hora, esse é um adeus.<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://fc00.deviantart.net/fs9/i/2006/042/7/b/Good_bye_by_whispered_nightmares.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://fc00.deviantart.net/fs9/i/2006/042/7/b/Good_bye_by_whispered_nightmares.jpg" width="320" /></a></div>Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-89981189189798869922010-03-31T01:40:00.000-03:002010-03-31T01:40:55.768-03:00Janelas e amor com chuvaUma gota de chuva escorregou sobre o vidro da janela, juntou-se a outra e formou uma lágrima grossa, até chegar ao parapeito e morrer num rio ladeira abaixo. Os olhos miúdos de uma pequena garotinha olhavam através dessa janela, para o outro lado da rua, para as outras gotas de chuva juntarem-se e escorrerem nas outras sete janelas à frente da sua. Ela olhava as janelas, observando cada uma, na sua singularidade, e apenas as olhava porque, da sua própria janela, ela não conseguia ver o céu.<br />
<div style="text-align: center;">~</div>Jéssica saiu de casa quando o sol se punha no canto oposto ao seu prédio, e esperou o táxi na frente da recepção. O prédio não tinha ar-condicionado central, por isso teve que ficar do lado de fora, embaixo de uma tenda protetora, ao lado de um camelô que vendia bijouterias. Quando entrou no táxi e disse o destino, foi a hora que o céu escureceu e começou a chover.<br />
<br />
- Está atrasado. - disse ela a um homem de pele escura, sentando-se à sua frente.<br />
- Eu sei. Desculpa. - ele pediu, abaixando levemente a cabeça.<br />
- Tudo bem. - ela sorriu.<br />
<br />
O restaurante não estava muito lotado, mas os garçons demoravam demais para atender. Ele pediu a massa, ela o vinho. Comeram, pouco, porém tranquilos. Terminaram a massa. Mais vinho, uma, duas garrafas. Ela sentia-se sutilmente leve, e poderia ser levada a qualquer lugar dali, com ele.<br />
Pediram ao garçom que chamassem um táxi.<br />
<br />
- Na minha casa ou na sua?<br />
- Na minha.<br />
<br />
Ela sorriu e pegou na mão dele enquanto esperavam o carro. Entraram, e o motorista não se importou de ver uma alça sendo levemente abaixada de um ombro branco como pérola. Estacionou no mesmo prédio que, poucas horas atrás estava parando para que uma moça branca entrasse, e aceitou a gorjeta do homem negro que a acompanhava.<br />
<br />
Jéssica rodou a chave na fechadura de seu apartamento, sentindo as mãos ágeis daquele homem agarrarem sua cintura. Fechou a porta do quarto atrás de si e sorriu, mordiscando o lábio no lado direito.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">~</div><div style="text-align: left;">A menina estava acordada, mesmo que fosse muito tarde da noite. No seu quarto não havia televisão. Através da sua janela, por entre os riscos de chuva, ela olhava as outras janelas à sua frente, cada uma com seu comportamento diferente. Foi então que teve, sem que menos soubesse ou esperasse - ela só foi saber exatamente sete anos mais tarde - o seu primeiro contato sexual. Da última janela da esquerda para direita, na primeira fileira de baixo para cima. Com o torso inclinado, os cabelos jogados para trás, os seios subindo e descendo, apontados para o céu, uma mulher arfava. A pequena menina assistiu aquela cena com seus miúdos e inocentes olhos até que a mulher se exaurisse no seu completo desejo e caísse por cima do corpo que a menininha mal conseguia ver, na escuridão da noite e do quarto. Ela viu os corpos se mexerem, uma luz se acender no íntimo do quarto e uma sombra caminhar para dentro do recinto. Depois, não viu mais nada.</div><div style="text-align: left;"><br />
</div><div style="text-align: left;">Então, deitou-se na cama ao lado da janela e ouviu o tilintar da chuva que cessava, lá fora. </div>Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-38924587590368066562010-03-20T03:32:00.000-03:002010-03-20T03:32:38.146-03:00Só saudade daqui, mesmoSinto falta desse lugar. Sinto falta de como eu era empolgada com ele, antes. E como agora, com tanta coisa mudando na minha vida, ele simplesmente perdeu o brilho. Foi ficando opaco, sem cor, sem luz, até... não sei. Está quase translúcido. É estranho ver como tanta coisa pode acontecer somente num espaço seu, mesmo que poucas pessoas fiquem sabendo ou sequer suspeitem disso. Esse blog fez parte de mim por muito tempo. Um ano, dois, até. E se não fosse por ele, um dos meus maiores sonhos e projetos de vida não teria acontecido. Se não fosse por ele, e por mim, eu não estaria aqui hoje, falando isso. Nem tendo tanta dor e tanto pesar em dizer como ele perdeu a cor. Eu queria muito, muito mesmo que tudo voltasse ao que era antes. Que eu escrevesse o tanto que eu escrevia antes, aqui. Mas é só que tanta coisa mudou. Agora, me vejo num tipo de dever, que às vezes pode ser chamado de crise de criatividade ou só preguiça. É só que... minha vida mudou tanto depois que eu abri isso aqui. Alguns corações quebrados, dramas e UPs internos, que não foram vistos totalmente por aqui, não passaram por essas linhas. E agora... Tudo está muito mais diferente do que eu imaginava. Talvez pelo fato de eu não ter esperado tanta coisa, foi que mudou tanto, então só agora, me dando conta disso, é que eu me surpreendo. Sempre zelei bastante por esse espaço. E acho que, com ele, eu também estava zelando por mim. E agora, não sei. Sinto isso aqui tudo empoeirado, cheio de teias de aranha - e eu? Bem, estou longe. Acho que em outra página, num parágrafo distante. Numa outra história.<br />
<br />
Não quero dizer com isso que o blog vá acabar. Sei lá até quando isso pode durar. Só queria falar o quanto esse espaço já foi especial para mim, algum tempo atrás. Bons tempos atrás. Eu realmente gostava daqui. Mas... Não sei. É deixar surgir. Deixar rolar. Eu acho.<br />
<br />
Só acho que devia fazer esse aviso.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5616685213782458990.post-86698227096567034682010-03-03T00:13:00.001-03:002010-03-03T00:30:22.862-03:00DeathEla tem vários disfarces. E aparece incontáveis vezes ao dia. Em qualquer lugar que você vá, ela está lá. Em pequenos detalhes. Ou em grandes acontecimentos. Na maioria das situações do seu dia-a-dia, ela lhe acompanhará. Quase como uma sombra atrás de você, imperceptível mesmo aos olhos mais espertos do mundo, ela estará à espreita, logo atrás, num lugar escondido, esperando você somente dar um passo errado numa caminhada. Colocar uma palavra errada numa frase. Deixar de responder a uma única pergunta, simples e - talvez - sem importância. Para você, é sem importância, mas para ela - é a chava que ela precisa para lhe atacar. E, quando você menos espera, ela lhe pegou e carregou você nos braços, para muito, muito longe daqui.<br />
<br />
Você não sabe, mas convive com ela todos os dias. Ao sair de casa, e quase pisar dentro de um bueiro. Ao atravessar a rua, mesmo com um carro próximo demais. Ao não esperar o sinal fechar. Ao atender o celular. Ao conversar com alguém do outro lado da rua. Ao pegar o ônibus errado. Ao entrar no ônibus e não ter lugar para sentar. Ao sentar próximo da janela. Você não sabe de que lado ela vem, mas sabe que ela está por ali. Rondando. Sondando. À espreita.<br />
<br />
Os que a descobrem facilmente, podem achá-la até mesmo simpática e amigável. Porém são poucos. Geralmente, quando você a vê, pelo canto do olho, ficará com medo e logo, com uma rapidez que julgará infinita, desviará o olhar. Mas, se for curioso, descobrirá que, ao olhar de novo, ela está ali. E ali, do outro lado. E mais ali na frente. E logo um pouquinho mais à direita, quase atrás de sua cabeça. Só não olhe para baixo. Isso pode ser, para ela, o golpe fatal.<br />
<br />
Porém, não se preocupe. Não fique achando que só porque ela te sonda, ela te fará mal. Ela sabe o que faz. Ela somente vigia, entediada, e se divertindo às suas custas. Mas nunca prega peças. Só espera, para ver sua reação. Ela sabe que você já prega muitas peças e põe muitos obstáculos na frente de tudo, só para ser mais trabalhoso. Você é quem projeta os milhares de encontros com ela no dia-a-dia, só que não percebe. Só ela que percebe. E se diverte.<br />
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Então, se divirta junto com ela. Ache suas próprias brincadeiras com o destino. Mas tome cuidado com os bueiros, as ruas, os sinais e as palavras. Talvez, numa dessas situações, quando você menos espera, ela atacará você. E, você sabe, que com ela é caminho sem volta.Anonymousnoreply@blogger.com