Ela caminhou com passos largos e firmes para a mesa da cozinha. Sentou-se no banco alto e encaixou os pés nas pernas do banco. Apoiou os cotovelos na mesa de mármore, sentindo o gelo que ela transmitia. Esperou até ele aparecer e escorar-se na porta, o pulso encostado na maçaneta. Seus cabelos estavam apenas caídos, cobrindo sua grande testa e revelando seus olhos astutos.
- Vem, senta aqui. Precisamos mesmo converter essa situação.
- Que situação? - deu um tom irônico à sua fala - Não estou vendo nada de mais acontecendo.
- Não seja tolo. Você sabe muito bem.
- Tá, então você quer mesmo por o sexo na mesa? Como se fosse um livro de cabeceira?
- É a única for... - foi interrompida.
- Não me venha com essa ladainha novamente. Você sabe que eu detesto quando você não vê o outro lado das coisas.
- Sei? - indagou, irônica, tentando igualar-se a ele. Ele fez uma cara que foi um misto de surpresa e indignação.
- Vem, vem pra cá. Senta aqui. Deixa eu te olhar.
- Você gosta mesmo de todo esse romantismo bobo, não é?
- Acho que li muitos romances água-com-açúcar quando criança. Talvez tenha ficado na cabeça. Ou quem sabe eu goste mesmo. Chega, vem logo.
Ele cedeu - relutante, mas cedeu. Afastou-se da porta devagar, fazendo um suspense que a matava de raiva por um lado e a enchia de prazer por outro. Quando ele se sentou finalmente na cadeira, também prendendo os pés abaixo e colocando os cotovelos no mármore, ficando quase na mesma posição que ela, foi abordado por um olhar recriminatório e ao mesmo tempo amoroso. Ele adorava aquele ar de seriedade que ela tentava fazer. Ora bolas, quem colocaria moral num cara de vinte anos? Uma menininha de dezesseis? Jamais. Mas ela conseguia, de alguma forma, encontrar seu valor. Sua essência. O que ele não mostrava pra ninguém. Só pra ela. E ela fazia isso tudo com o olhar.
- Nós estamos juntos há muito tempo, não acha? - abordou-o.
- Seis meses e meio, pra ser mais exato.
- Então não acha que está na hora de você me pedir em namoro? De eu contar tudo para os meus pais? E nós podermos sair daqui o quanto antes?
- Não sei... - ele recaiu para trás, automático, mas logo voltou à posição de antes - Estou tentando dar tempo ao tempo. Como minha mãe dizia, a pressa é inimiga da perfeição.
- Mas, veja, perfeição não existe, logo devemos CORRER! - aumentou a voz, de alarde.
- Meu amorzinho, não vê que é muito cedo ainda? Você só tem dezesseis aninhos.
- Mas você tem vinte, é um cara formado, transa comigo e eu já não sou tão bobinha assim. Deveria assumir seu papel.
- Você também deveria assumir o seu.
- De quê? De garotinha boazinha e inocente? HA-HA! Esse eu já passei há muito tempo, beiber.
- Não fala assim comigo. - repentinamente, ele fez uma cara de criança, mostrando até um biquinho tentador. - Machuca, sabia?
- Nhémnhémnhém... - ela não arredou o pé. - Pára. Vamo falar sério. Afinal, você vai ou não assumir esse namoro? - parou por um instante. Ia prosseguir mas, foi interrompida com o velho interrogatório.
- E o seu pai?
- Ele não liga.
- E sua mãe?
- Pior ainda.
- Seu irmão não é ciumento com você?
- Até parece. Poxa, tá parecendo que você não conhece a minha família!
- Tudo bem, tudo bem... - e parou. Ela ficou esperando ele continuar, mas ele não continuou. Alguns minutos se passaram, os dois olhando um ao outro. Ela quebrou o silêncio:
- Tudo bem? Você vai assumir?
- Não. Tudo tem seu tempo, minha linda. Agora vem aqui, vem.
E puxou-a para cima da mesa de mármore. Ela tentou lutar, agredindo o seu peito viril de forma inútil. Ele segurou seus braços brancos e finos. Os dele eram fortes e morenos. Totalmente o oposto. Não é a toa que dizem, os opostos se atraem. E se atraíram mesmo. Fizeram sexo ali mesmo, em cima da mesa da cozinha. Mais tarde, talvez, resolveriam o assunto que pairava por ali, já saindo de fininho.
-----
I'm back! HOHOHOHOHO. Eu sabia que vocês sentiriam minha falta - modéstia?! não, quéisso! - então eu voltei :)
Enfim, como a necessidade foi grande e o presente de amig0-secreto do 10¢ não apareceu, resolvi criar um blog só com 'post-diarinho'. Então, caso eu suma por aqui, acho que vocês tem onde me procurar - ou não. Vai o link:
http://www.mjessica.wordpress.com
Beigos. E comentem, se o conto ficou ruim, péssimo, ou até legível. Enfim, a voz do povo é a voz do blog. ;D