quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Senhora do tempo
Ela vem. Grande, cheia, dominando tudo sem dar motivos. Arrasta qualquer coisa que estiver na frente, engolindo sem mastigar. Deglutindo as vidas que ainda apelavam pela resistência. Vidas lindas, anis, cor-de-céu. E agora, estraçalhadas por ela.
Assemelho-a a solidão. Essa minha que vem me pegando, quase sempre, me deixando com essa cara de tristeza. Não entendo, ela nunca me dá motivos para vir me atacar. É uma pena, por que dói, e eu não posso fazer nada para combatê-la. É uma pena para mim, que sofro.
A grande nuvem cinza toma conta do céu sem dó nem piedade, trazendo consigo as gotas grossas que, por inércia, insistem em cair. Na esperança de lavar qualquer coisa que estiver suja, - que também acaba por acabar com o que era antes - mas acaba só trazendo mais tristeza, agonia, sofrimento. Deixando todos nesse sombrio e frio escuro.
Assim, a saudade me ataca. Ela vem logo depois que a solidão encontra um lugar pra ficar. É sempre assim. Mas, diferente das outras, a minha saudade é indefinida. Ela não precisa de algo para se basear - apenas quer algo para com que se apegar ou alguém para abraçar. Assim como eu, que concordo com ela. Na verdade, não tenho controle, sempre concordo com ela. Ela me controla. Então - nós duas - sofremos, juntas, procurando uma beleza inencontrável nessa chuva.
O nublado é seu vestido. É seu casaco, é sua roupa de cama. Avassaladora, ela vem balançando a saia do vestido e derrubando tudo o que vê pela frente. Corajosos são os que se aventuram a saírem de um abrigo quando ela chega. Impossível resisti-la, ela é a Senhora do Tempo, a que comanda tudo e não abre caminho ou brecha quando quer passar. Simplesmente, passa por cima de tudo e de todos.
Assim, as duas se fundem e eu as observo, de perto. Sentindo a saudade bater forte e a solidão pegar na minha mão, a chuva e a grande nuvem de aço não parecem querer ir embora. Insistem em ficar aqui, me acompanhando à vida, me fazendo enxergar o que não queria, ou sentir o que não quero.
Infelizmente, nada posso eu fazer. Elas são mais fortes que eu. Penso que quando um Rei quiser aparecer, elas finalmente tomarão o seus rumos. Mas, insistentemente, eu tenho a certeza de que voltaram. Juntas e avassaladoras, deixando tudo muito mais negro que o habitual.