domingo, 16 de outubro de 2011

Sócia do clube dos anti-sociais

Preciso te dizer que eu sou anti-social. Não gosto quando recebo visitas em casa. Não gosto quando alguém da família chega para "tomar um café" e fica até a hora do jantar/almoço. Aliás, essa situação eu tento evitar ao máximo na minha vida. É uma das piores de todas, pra mim: receber familiares em casa e ter de aguentar todo aquele lero-lero porre de família, porque Fulaninho fez isso e não deveria ter feito, porque Sicraninho está aprendendo a andar de bicicleta, porque Doninha está grávida de novo do terceiro filho... Por aí vai.

Papos assim nunca vão funcionar comigo, até quando é família de outra pessoa e algumas histórias parecem até ser legais. Mas não adianta: logo eu perco a paciência e tento desviar, de todas as formas, o assunto para algo que realmente interesse. Claro que assuntos assim não aparecem o tempo inteiro. E pior: eles nunca surgem naquela hora certa, exatamente quando você dá de cara com alguém que não tem o quê conversar com você. Nessas horas, o "assunto interessante" sai correndo longe e te deixa lá, vazio e sem esperanças, ansiando para que aquele momento passe.

Um dos lugares-comum que mais acontece esse tipo de impasse é em paradas de ônibus. Lá está você, ouvindo música no volume máximo, com seus novíssimos fones de ouvido, quando de repente chega aquela pessoa que você conhece, mas não conversa. É teu colega, estudou contigo em algum cursinho ou escola da vida, e de repente surge na tua frente com o maior sorrisão, pronto pra te cumprimentar como se vocês fossem amigos de longa data. Cara, isso não funciona. Ele pode até te abraçar com maior fervor, mas depois do "E aí, com você está?", a situação só tende a piorar.

Aqui, o lema de "na dúvida, fale sobre o tempo" do Takeda não funciona. Porque esse é aquele tipo de situação que você mexe nos bolsos, troca o peso das pernas, olha para cima, para baixo, para todos as laterais (numa forma desesperada de evitar o contato olho-a-olho com o indesejável ser ao seu lado), e solta aquele sorrisinho: "então...", visivelmente mostrando o quanto você quer dar o fora dali e seguir sua vida. São momentos que te atrasam, quase dando um imprevisível e incômodo Pause no ritmo de vida que você estava levando. A vida para do que estava fazendo antes ou pretendia fazer naquele instante para ser interrompida por uns dez, vinte (oh, meu deus) quarenta minutos  por alguém que não tem nada para falar com você.

Porque, na boa, convenhamos, falta de assunto no meio de uma conversa (ainda mais dois a dois) é uma das piores situações já criadas pela humanidade. E aí o único jeito é ficar preso as piores tentativas de engatar numa conversa, ou se perder nas esparsas amenidades tipo "como vai a faculdade?" "trabalhando, já?" "como vai o namoro?"... Daí para baixo.

Deste modo, eu me torno sócia do clube dos anti-sociais. Porque, sério mesmo, entre encontrar uma "persona non grata" e ouvir música sozinha na parada de ônibus, eu prefiro muito mais aumentar o volume e deixar que o John  Lennon exploda meus tímpanos (com o Walls & Bridges, de preferência). Aqui, o verdadeiro lema é do mestre Bukowski: "Não é que eu odeie as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto".