terça-feira, 29 de abril de 2008

Ensaio

Quem nunca ensaiou pra alguma coisa que atire a primeira pedra.
Pegando a âncora do post da Marina Melz, eu tiro essa frase. Quem nunca ensaiou?
Eu vivo ensaiando o tempo inteiro. Às vezes ao vivo, realmente, na frente do espelho. Mas a maioria das vezes é só na cabeça. E por que não ensaiar?
É essencial, de alguma forma, ensaiar pra alguma coisa que se deseja, seja esta um encontro romântico ou uma entrevista de trabalho. Mas, ensaiar pra quê se, afinal, não se sabe ao certo como vai ser lá na hora? É a grande dúvida.
Como sou criança e não tenho idade pra trabalhar (segundo a mamãe), logo eu nunca ensaiei pra uma tal entrevista de emprego. Porém, pra quase tudo eu vou com alguma coisa na cabeça. Uma frase, uma forma de agir, como andar, o que falar etc.

Na minha concepção, as pessoas vivem ensaiando. Até mesmo na vida real, sem perceberem que estão quase decorando um script, imitando um personagem. Como meu professor de teatro já me disse, ao andar na rua, percebe-se quem é personagem e quem não é. A vida inteira é um teatro, já dizia Charles Chaplin.
É claro, não se deve viver mirando muros e atirando pra tudo o que é lado sem estudar o terreno. Entretanto, também ficar preso em si mesmo de tanto ensaiar, querer algo perfeito demais chega a encher. E quando se estoura, aí já era...
Não tem como conseguir a perfeição (até porque ela não existe no nosso meio humanístico[?]), e tentar chegar à ela é impossível. Perfeição é como gosto, cada um escolhe algo pra ser perfeito, algo idealizado, mas fica só nisso. Como Platão disse, com os dois tipos de mentes: o racional e o imaginário. A perfeição enquadra-se no imaginário, não tem como...

Eu não quero casar. Não sei se quero acabar com minha vida logo cedo. Se for pra casar, prefiro que seja com um cara paciente, e que me aguente, ou morra de rir quando eu dou meus chiliques de raiva e começo a soltar palavrões à doidado pelo ar. Mas este não vai ser o cara perfeito pra mim. Não existe gente, coisa, objeto, mãe, família, isso e aquilo perfeito. Pode ser que tenha em nossas mentes, mas mesmo assim, Murphy ainda vai achar um jeito de acanalhar tudo.

Quem acredita em amor sempre tem essas coisas. Eu mesma sou assim. Vivo imaginando como seria se 'aquele cara do ônibus' viesse e puxasse um papo comigo, se 'o menino-lindo-"perfeito"' viesse me agarrar no meio do pátio da escola, fazer uma mega declaração de amor, ou que meu ex voltasse com um buquê de flores no dia do meu aniversário e me entregasse no meio da aula de Biologia.
Mas são só sonhos. Eu ensaio a vida inteira, e tenho certeza que vou ensaiá-la até eu morrer. Eu sou perceptível, analítica e não-calculista. Me vale mais emoção do que razão, mas às vezes eu só deixo a simetria do mundo me levar, e então dá tudo certo (ou não) no fim.