domingo, 16 de novembro de 2008

Madrugada

Eu quero sair de casa. Sair depois da meia noite, mas não em destino a um bar, ou a diversão. Quero só sair sem avisar a ninguém.

Ninguém iria saber no outro dia. Eu voltaria antes mesmo de amanhecer, e não deixaria rastros de que passei a noite fora. Seria um segredo meu, mais um para os tantos guardados dentro da caixinha de surpresas.

Eu quero que a meia-noite seja um impulso para minhas saídas. Quero levantar da cama quando todos estiverem deitando nela, e abrir a porta quando todos estão trancando-a. Eu quero contemplar o final de dia, o exato fim das doze horas de produção que todos merecem. É pela escuridão que eu quero andar.

Eu quero sentir o peso das horas passando, lentas e preguiçosas, o dia sem querer amanhecer. Quero abrir os olhos e não ver luzes de carros passando por mim, nem sentir o sopro tóxico que eles mandam. Não esbarrar em pessoas desconhecidas, ou até conhecidas, vai saber. Não quero presenciar brigas, nem pressa, nem desrespeito, nem carência.


Quero a calmaria noturna me invadindo, a paz soprando nos meus ouvidos, o silêncio me extenuando. Quero me sentir grande como a cidade é quando anoitece de verdade. Quero passar pelas ruas sem ter medo, sem correr, sem olhar para trás. Quero sair de casa sem compromisso.

Eu quero levar um cigarro comigo. E testá-lo nos meus lábios, sem preocupação, sentindo o vapor dele sair de mim e fazer formas aleatórias no ar. Quero andar sem perceber por onde estou passando, só seguindo em frente, me embebedando da madrugada.

E depois eu voltaria sem nenhum indício de que aquilo aconteceu. Para o resto do mundo, esta madrugada foi igual a todas as outras. Mas para mim, a madrugada vai ser sempre uma boa companhia.