Visualize: um floquinho de neve bem feito, daqueles que aparecem em filmes, está caindo neste momento na janela aqui da frente. Lá fora, as crianças brincam, fazendo bonecos de neve e atirando bolas de gelo fofinho uma nas outras. Eu não as ouço - as portas e janelas estão trancadas. E a neve cai sem parar...
Esta talvez seja uma foto perfeita para você, aliás, para muitos escritores: sentar-se à frente de uma janela, lá fora com neve, você com tantos casacos que perdeu as contas, e se deixar levar pelas teclas barulhentas da máquina de escrever. A minha nem é tanto - comprei naquele brechó que fomos um dia. Lembra? Ela é vermelhinha e pequena. Uma beleza.
Eu não sei como explicar, acho que isso só pode ser maior que eu. Você sabe que nunca fui tão boa quanto você nas letras - o meu ramo é mesmo aquele chato e jurídico. Mas o problema é que meu coração bate tão alto que não consigo controlar meus dedos, e só vou falando do quanto queria que você estivesse aqui para cutir esse espetáculo gelado que está lá fora, enquanto o floquinho de neve cai lentamente pela janela. Seria tão bom se você estivesse aqui, amiga, e assim me ajudaria em mil dúvidas que tenho quando escrevo - principalmente assim, despretensiosamente.
Com certeza, se você estivesse aqui, estaria agora batucando nessa máquina, prolongando seu próximo livro ou quem sabe escrevendo contos que me fazem mergulhar. Sinto tanta sede de te ler que fico procurando, em meio a essa neve toda de dezembro, algum livro que seja parecido com o seu. Que tenha o mesmo jeitinho miúdo e romântico de ser - e que, ainda sim, com um leve toque de sensualidade. Afinal, você sabe que sempre escreveu sobre o que você é, nada mais do que isso - mesmo que passasse horas conversando comigo sobre seus novos personagens. Eles nada mais eram do que personificações suas. E agora você me deixa sem eles, sem você, só comigo e toda minha formalidade.
Sinto que estou sendo sentimental demais, você sabe, isso não é de mim. Mas, de que adianta tentar remediar uma coisa que já está? Afinal, a saudade é tamanha que não consigo controlar. E meus dedos apenas vagam por essas páginas em branco, procurando algum sentido, alguma frase, alguma palavra que traduza a minha saudade por você. Porque só esse floquinho de neve caindo aqui da janela, e os gritos e risadas e brincadeiras das crianças lá fora - agora posso ouvir já que abri a porta - e todo esse clima frio e branco me faz lembrar você e suas escrituras, seus livros, seus contos e personagens. É você que eu procuro e não adianta tentar te achar em qualquer outro lugar, tudo aqui é frio demais, lânguido demais, distante demais - ninguém tem esse seu jeitinho afetuoso e lindo de ser.
Parece até que estou me declarando. Mas é que realmente sinto falta da sua amizade, do seu jeito cuidadoso e ao mesmo tempo tão destrambelhado. Tem lógica isso? Sinto falta até do seu jeito de arrumar as coisas, de se vestir, até de rir. Às vezes estou andando na rua e escuto sua risadinha abafada, às vezes vejo num espelho seu sorriso silencioso, mas tão verdadeiro. As ruas ficam até um pouco mais quentes quando lembro disso, quando lembro de você.
Olha, me desculpa se estou sendo piegas demais. É que hoje alguma coisa aconteceu, não sei se foi esse floquinho caindo na janela, ou as crianças lá fora, ou só a saudade do seu calor no meio dessa neve tão gelada, mas estou mesmo com saudades, e acho que vou morrer se você não aparecer logo por aqui - e poder usufruir livremente dessa máquina vermelhinha de escrever, diante dessa neve que inunda tudo e parece não mais ter fim.
Acho que já me alonguei demais. Por fim, o de sempre: Amo você e estou morrendo de saudades.
Vem logo.
Com carinho,
Luisa
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1- Me façam prometer de que não vou mais dizer que estou deixando o blog. Nunca consigo. Sempre que falo que tô dando um tempo, vem a saudade, aquela vontade louca de escrever... e aí, bem, é isso.
2 - Eu achei a foto dessa máquina de escrever em algum lugar que não lembro onde, então assim que achar, postarei.