Me dê um mês, e eu crio uma história. Me dê um dia que eu faço seu enredo. Me dê um ano, que eu escrevo a mais bela crônica dos meses. Me dê uma cor, um cheiro, uma fotografia, um desenho, que eu faço mais de dez mil contos. Me dê uma hora, um tempo, um evento, que eu crio a capa mais bonita do nosso livro. Me dê uma criança, e eu faço de mim o melhor palhaço que já existiu. Me dê um circo, que eu crio a melhor história de amor. Me dê um orfanato, que eu escrevo o melhor thriller que já existiu. Me dê um parque de diversões, que eu te digo, eu te conto a história mais horripilante de serial killer. Me dê uma cena de amor, que eu construo nosso romance. Me dê uma festa, que eu crio os personagens. E te coloco no meio.
Só não me dê o cheiro do seu cabelo quando acorda, você vestindo minha camisa, sua carinha de sono. Não me dê nossos pés roçando, enquanto eu agarro sua cintura com força, te protegendo de um filme de terror. Não me dê um amanhecer na praia, nem um entardecer na cachoeira, muito menos um piquenique na grama. Não me faça ficar perto de você mais do que um minuto sem reparar em qualquer detalhe seu. Não me dê seu sorriso miraculoso. Não me faça perder meus dedos nos cachos do seu cabelo, nem na cor dos seus olhos, nem nas curvas do seu corpo. Não me dê remédios quando a ressaca de vinho bater, nem me faça ter um motivo para acordar todos os dias de manhã e sair de casa cantarolando canções que já ninguém mais ouve. Não me dê seu microssistem. Nem seu microondas. Não me dê seu carinho. Não me dê sua voz. Não me dê seu rosto. Não me dê seu amor. Não me dê você para que eu escreva. Não me faça criar de você um personagem de um conto, uma crônica ou um livro qualquer. Por que você não se escreve, não se detalha, não se conta. Você foi feita para se viver.
E eu quero viver.
Com.
Você.