Ela tem vários disfarces. E aparece incontáveis vezes ao dia. Em qualquer lugar que você vá, ela está lá. Em pequenos detalhes. Ou em grandes acontecimentos. Na maioria das situações do seu dia-a-dia, ela lhe acompanhará. Quase como uma sombra atrás de você, imperceptível mesmo aos olhos mais espertos do mundo, ela estará à espreita, logo atrás, num lugar escondido, esperando você somente dar um passo errado numa caminhada. Colocar uma palavra errada numa frase. Deixar de responder a uma única pergunta, simples e - talvez - sem importância. Para você, é sem importância, mas para ela - é a chava que ela precisa para lhe atacar. E, quando você menos espera, ela lhe pegou e carregou você nos braços, para muito, muito longe daqui.
Você não sabe, mas convive com ela todos os dias. Ao sair de casa, e quase pisar dentro de um bueiro. Ao atravessar a rua, mesmo com um carro próximo demais. Ao não esperar o sinal fechar. Ao atender o celular. Ao conversar com alguém do outro lado da rua. Ao pegar o ônibus errado. Ao entrar no ônibus e não ter lugar para sentar. Ao sentar próximo da janela. Você não sabe de que lado ela vem, mas sabe que ela está por ali. Rondando. Sondando. À espreita.
Os que a descobrem facilmente, podem achá-la até mesmo simpática e amigável. Porém são poucos. Geralmente, quando você a vê, pelo canto do olho, ficará com medo e logo, com uma rapidez que julgará infinita, desviará o olhar. Mas, se for curioso, descobrirá que, ao olhar de novo, ela está ali. E ali, do outro lado. E mais ali na frente. E logo um pouquinho mais à direita, quase atrás de sua cabeça. Só não olhe para baixo. Isso pode ser, para ela, o golpe fatal.
Porém, não se preocupe. Não fique achando que só porque ela te sonda, ela te fará mal. Ela sabe o que faz. Ela somente vigia, entediada, e se divertindo às suas custas. Mas nunca prega peças. Só espera, para ver sua reação. Ela sabe que você já prega muitas peças e põe muitos obstáculos na frente de tudo, só para ser mais trabalhoso. Você é quem projeta os milhares de encontros com ela no dia-a-dia, só que não percebe. Só ela que percebe. E se diverte.
Então, se divirta junto com ela. Ache suas próprias brincadeiras com o destino. Mas tome cuidado com os bueiros, as ruas, os sinais e as palavras. Talvez, numa dessas situações, quando você menos espera, ela atacará você. E, você sabe, que com ela é caminho sem volta.